Lá vem Maria

Viajando com “O Causo é o Seguinte”

abr 6, 2016 por

 

 

 

 

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Domingo ensolarado, 03 de abril de 2016, último dia de Festival de Teatro de Curitiba. Érico Viensci passeava com a filhinha entre as árvores do quintal palco do Ave Lola. Outras crianças exploravam o espaço enquanto os adultos iam se acomodando. Du Gomide transitava entre o quintal e o bar instalado na varanda, uns dez degraus acima. Daniel Farah passou por perto e sumiu. De longe era possível ver Richard Rebelo em plena concentração. Mais ou menos 11 horas os três músicos deixaram de circular entre plantas, almofadões e pessoas. Juntaram-se a Richard Rebelo. Algum tempo depois, ao som da música que tiravam dos instrumentos, os quatro desfilavam pela plateia, tomando o palco ao ar livre. O que tivemos, na sequencia, foi uma hora de viagem prazerosa por esse país de singularidades, contrastes e complementaridades.
O Causo é o Seguinte é definido em sua página, no Facebook, como “um espetáculo musical de contação de causos e modas de viola”. A afirmação é verdadeira, mas tem bônus. Tem rabeca, instrumentos de percussão, violão e até gaita (ou sanfona). Mas não imaginem três músicos e um contador de causo com papéis estanques. Os primeiros mergulham na contação através das letras e de intervenções que antecedem ou entremeiam as músicas que são, também, causos. O último, canta, toca triangulo e tira um bom som da gaita. E entre uma coisa e outra, tem a conversa com quem está do lado de lá – na plateia. E a plateia responde com alegria, porque é bom estar ali, participando da viagem.
Ainda na página citada, encontramos que “ o projeto revisita a história musical e literária brasileira: dos cordéis nordestinos, passeando pelo interior de Minas Gerais, às afinações e ponteios de viola do interior paulista”. Aí também tem bônus. Nesta versão os sons de Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão presentes. E para tornar tudo isso um pouquinho mais gostoso, os causos são contados com sotaques bem trabalhados, sem exageros ou estereótipos e ganham cores com os movimentos e expressões do contador e dos parceiros. O Trio Caipora (Érico, Du e Daniel) e Richard encarnam um grupo de compadres proseando sob árvores e sobre bancos de uma praça, de alguma cidade de qualquer uma das regiões visitadas no espetáculo. Para quem possa não acreditar, basta ver a galeria de fotos que apesar do amadorismo da fotógrafa e das variações de luz e sombra proporcionadas pelo sol entre árvores, já é uma grande viagem.

(ao clicar na foto ela será selecionada. Clicando pela segunda vez ela abrirá em página inteira)

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Feira do Poeta: um ano de (re)conquistas

abr 1, 2016 por

imagem do acervo da Feira do Poeta

Os escritores sabem que seus escritos precisam de leitores e que leitores precisam de poesias e histórias através das quais possam viajar. Mas escritores também sabem que é preciso criar pontes entre suas criações e aqueles que as querem conhecer. Uma das boas pontes é a Feira do Poeta.
Para quem não conhece, a Feira ocupa um espaço não muito grande, mas aconchegante e bem organizado no Largo da Ordem. Durante décadas foi referencia, mas sumiu do cenário curitibano por cerca de 12 anos, ressurgindo em março de 2015.
Este núcleo nasceu em 1981 com o nome Projeto Poetas na Praça, desencadeado pela poetisa Maria de Jesus Coelho que queria um espaço para si e seus colegas. A Fundação Cultural de Curitiba atendeu a reivindicação e a FUNDEPAR ampliou o apoio, cedendo equipamentos para impressão artesanal. No final do mesmo anos nascia a Feira do Poeta.
Muita coisa aconteceu. A equipe apoiou, publicou e mostrou muita gente enquanto transitava por vários espaços, incluindo o Centro de Criatividade do Parque São lourenço, a Casa Romário Martins, a casa nº 108 da Rua Claudino dos Santos e ganhou sede própria, ao lado da Casa Romário Martins. Depois de tanto fazer, a Feira sucumbiu. Mas poesia é como aquelas plantinhas de raiz rasteira, que some aqui e aparece acolá. E reapareceu pelas mãos de Luiz Brizola3Carlos Brizola. Ele contou em entrevista que reabrir a Feira do Poeta foi uma ideia grupal. Veio à tona em meio a uma série de movimentos como o Cutucando a Inspiração, Sarau Popular, Escritibas e Meninas que Escrevem (atual Marianas). De posse da proposta, Brizola foi a Fundação Cultural de Curitiba que apoiou e ajudou a negociar a recuperação do espaço.
Nesta semana a reabertura da Feira do Poeta completou um ano, fortalecida pela participação coletiva. Tem nova forma de funcionar e presta apoio aos escritores de diferentes linguagens. É, principalmente, um espaço de divulgação para autores de Curitiba e região metropolitana. Mas está aberto aos músicos e outros artistas que queiram realizar performances e intervenções diversas. Além da disponibilização do espaço, presta serviço de orientação para editoração, apoio logístico aos Escritibas e aos projetos Sarau Popular e Cutucando a Inspiração.
A Feira do Poeta é hoje, a casa do escritor de Curitiba e região, mas para lançamentos e eventos, recebe autores de qualquer lugar do Brasil.
Os domingos são reservados aos lançamentos e manhãs de autógrafos. Entre terça e sexta, além do apoio logístico já citado, é possível fazer consulta ao acervo, obter informações e consultoria para editoração.
Até fevereiro de 2016 contava com a coordenação apenas de Brizola, mas partir de março de 2016, Geraldo Magela passou a integrar a equipe. Magela, que está na foto da antiga Feira do Poeta, é quem a define como “espaço plural, com várias linguagens, literárias ou não”. FP11

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Marlene de Oliveira: a arte resgatando a vida

mar 1, 2016 por

marlened“ Ainda não fiz meu autorretrato, mas já estou me vendo por dentro. Como isso é magnífico, lindo demais
Foi simples para me descobrir: através da dança. Uma coreografia que quase não é conhecida no meio artístico, por preconceito da sociedade. Dança que exige toda sensualidade do corpo em movimentos encantados, expressão leve. É a única dança que não pode ter o toque dos pares. Eu me vejo livre como uma ave pairando entre montanhas: a dança cigana…”
Valle dos Sonhos – um passado real
Marlene de Oliveira

Afirmo, sem ter dúvidas, que a falta de vínculos ou a ausência total de afeto promove a morte tanto quando a desnutrição.

Quando olhos cuidadosos não acariciam a criança, quando mãos seguras não são estendidas, quando não há cuidados disponíveis, o universo vira escuridão e o fio da vida pode ser cortado. Mas há quem sobreviva em famílias que não acolhem. Nestes casos pode-se verificar que algum amparo veio de fora, de outros olhos, de pessoas que não pertencem ao núcleo familiar. As vezes são fios intermitentes de luz, capazes que alimentar a força. Quando esses fios deixam de existir, a escuridão triunfa. marlene

Este poderia ser o resumo da vida de Marlene de Oliveira, mas ela mereceu um feixe adicional de luz, decidiu continuar, superar, contar e pintar sua história e renascer na dança.

Neste texto não repetiremos todo relato da trajetória de Marlene, que pode ser conhecido com as palavras da protagonista, no livro Valle dos Sonhos – Um passado real, editado pela J. M.Editora. Também pode ser vivenciado numa incrível sequencia de telas pintadas a óleo, que ocupam cinco paredes da casa que ela construiu com suas mãos. Na galeria abaixo, mostramos algumas.

Vamos partir do ponto em que, depois de arrastar um carrinho pelas ruas catando o sustento seu e das filhas, de trabalhar na faxina de hospitais, doente, sem trabalho e com rejeição da família, Marlene sucumbiu. E este foi ponto de seu renascimento. Ela recebeu e aceitou o olhar cuidadoso de um médico, acatou o apoio e tornou-se seu próprio amparo.

Foi preciso que um olhar amoroso, aqui entendido como de amor universal, a impulsionasse. Foi preciso que usasse a palavra – verbal e escrita – para expurgar a dor. Foi preciso pintar em fundo branco para expelir a escuridão que carregava consigo e só então pode ser a dona de si mesma.

A ruptura foi marcada pela quebra da lei do silêncio, imposto pela família, ao qual ela se submeteu. Falou, escreveu e pintou sua trajetória, até que pudesse deixá-la no passado.

É neste ponto que nasce a bailarina de dança cigana.

Depois de aprender a dançar e de sua história ser conhecida, ela passou a fazer apresentações e a participar de eventos como reuniões, conferencias e encontros, com o propósito de impulsionar o resgate de outras mulheres vitimas de violência. Participa com sua dança, relatando sua experiência de vida, apresentando seu livro ou expondo suas pinturas. Trabalho voluntário que pode sr constatado nos inúmeros álbuns postados na sua página no Facebook e da qual nos autorizou a reprodução de algumas.

Marlene participa para dizer a outras mulheres que é possível assumir as rédeas, quebrar o circuito de violência a que estão submetidas e ter uma vida digna. Ela parece repetir: eu consegui, você também pode.

Marlene é exemplo. É modelo a espelhar e, exatamente por isso faz-se necessário considerar um aspecto relevante na sua história. A primeira opressão relatada tem origem na própria mãe. O primeiro modelo desse padrão ambíguo, que mescla sentimentos de proteção e desamparo com violência, foi daquela que se deixava sugar pelos homens da família, tratava com violência física e emocional, a filha de mesmo sexo e permitia que recebesse maus tratos dos irmão. Este padrão de relação repete-se ao longo da vida, até que viver deixasse de ter sentido. Este foi o tipo de vínculo com o qual ela precisou romper para ir em frente.

A constatação não é uma acusação e não exime qualquer outro membro. Antes, aponta para necessidade nos pensarmos como mães e mulheres. É também um sinal de que é necessário nos colocarmos atuantes na reconstrução dos valores vigentes, na formação dos padrões de relacionamento de nossos filhos e filhas, na valorização, sem mitificação, de nossa função na família e na sociedade. É preciso educar sem deixar que esqueçam que uma mãe é uma pessoa, não uma heroína de poderes ilimitados. É uma mulher a ser respeitada e não o sexo fraco a ser desconsiderado. Assim ensinamos nossos filhos a respeitar outras mulheres e nossas filhas a não se deixar agredir.

marlene*

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para quem quer saber mais sobre a guerreira Marlene de Oliveira, disponibilizamos os links:

http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-31–56-20140809

http://andes-ufsc.org.br/vidas-ameacadas-machismo-que-fere-e-mata/

http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/colunistas/jose-carlos-fernandes/a-paixao-de-marlene-de-oliveira-e0hl1lgdqosm273llp2k40716

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Escritibas na charmosa São Francisco

fev 24, 2016 por

No centro de Curitiba, entre as ruas Barão de Serro Azul e Presidente Faria existe uma ruazinha antiga, charmosa e colorida. Antes era lembrada por acolher o Restaurante Mikado, que neste ano, para tristeza de milhares de pessoas, deixou de existir. Muito antes do fechamento deste ponto de boa comida e muitos encontros, a rua estreita, de poucas quadras e calçada com pedras, tinha deixado de receber atenção. Mas o movimento dos ciclistas que, com trabalho voluntário, transformou um terreno abandonado no agradável espaço de convivência reacendeu o interesse. Quando ,em 22 de setembro de 2014, o espaço foi oficializado como Praça de Bolso do Ciclista, campanhas que pedindo a revitalização da rua histórica se espalhavam. Ao mesmo tempo passou a ser tornou palco de eventos culturais ao a livre.
Independente das ações governamentais ou não, a São Francisco tem lugares interessantes. Não disponibilizaremos um lista, nem qualquer avaliação dos serviços. Em foco, apenas um pouco da arte encontrada em uma única quadra, registrada em 18/02/2016. Café, pizzaria e brechó são algumas das opções que mostramos na galeria abaixo.
A partir de fevereiro deste ano surgiu no local, uma nova feira de arte e artesanato. Todas as quintas feiras sem chuva, no final do dia ou começo da noite, é possível escolher um objeto cerâmico, uma pequena planta, discos, camisetas, calçados, desenhos ou livros. E nós, os Escritibas, estamos lá, com nossos livros de poesia e prosa. No local é possível conversar com autores, comprar livros e ainda, levar a obra autografada. Veja na galeira os autores presentes no dia 18 de fevereiro: Junior França, Alvaro Posselt, Geraldo Magela, Adegmar José da Silva,  Silzi Mossato e Paulo Roberto de Jesus.  Apareça!

 

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GiKlaus em sonho e cena

fev 22, 2016 por

 

“Acho que sonhar sonho é o mesmo que ter asas” (Praça da Amizade)

GK10

Pode-se dizer que para ser ator, na essência da palavra, é necessário talento, além de uma série de atributos intrínsecos. Concordo com a premissa, mas o trabalho contínuo e a superação são essenciais ao oficio. Do meu ponto de vista foi desta junção do intrínseco com exercício cotidiano que nasceu a Cia GiKlaus de Teatro.
O batismo da GiKlaus aconteceu no dia 17 de janeiro de 2016, com a primeira apresentação do primeiro espetáculo para convidados. Um mês depois, na manhã de quarta feira, 17 de fevereiro de 2016, eles estrearam na cena curitibana, com aplausos calorosos. O palco foi a rua XV de Novembro, próximo à praça Osório.
Klaus Faryj e Giselle Xavier Miranda não são atores iniciantes. A companhia resulta de anos de experiência, em grande parte dedicados à Arte Espirita. A amizade e o trabalho conjunto, desenvolvido com seriedade e empenho, certamente influenciam no resultado. O espetáculo encanta crianças e faz com que adultos viajem à infância.
Praça da Amizade foi adaptado do texto de Chico Xavier, editado pela CEU, que através de Francisco Galves, cedeu os direitos. Ao adaptar, Klaus deu ao mesmo tratamento adequado ao Teatro de Rua. A dramaturgia tem como referencia a cultura rural e circense e mostra uma belíssima sequencia de cenas em dois diferentes contextos.
Dois atores assumem diversos personagens, marcados por adereços ou pelo uso de pequenos objetos cênicos. As artes circenses são marcadas por piruetas, malabares e requebros.
Edmundo Cezar assina a direção. Em Curitiba desde 2011, trouxe para o espetáculo sua experiência inciada em 1986 no teatro amador, no subúrbio do Rio de Janeiro, ampliada no Curso Livre de Teatro e de Licenciatura em Artes Cênicas da UFBa. Ator, diretor e iluminador recebeu o prêmio Bahia Aplaude de Revelação do Ano de 1996. Desde 1998 dedica-se ao teatro com conteúdo espírita, dirigindo espetáculos pela Cia Espírita de Artes Cênicas de Salvador, Bahia.
O espetáculo fará parte do Festival de Teatro de Curitiba. Confira datas, horários e locais após sequencia de fotos.

Festival de Teatro de Curitiba

Data                   Horário     Local

23/03/2016         11:00      Ruínas São Francisco

24/03/2016         09:00      Largo da Ordem – Bebedouro

25/03/2016         16:00      Ruínas São Francisco

26/03/2016         18:00      Praça Generoso Marques

 

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Escritibas na Rua: literatura onde o povo está.

out 7, 2015 por

Eu escrevo, tu escreves, ele escreve, mas para que o autor se revele como escritor é preciso que suas idéias, emoções e sentimentos sejam lidos.
Como chegar ao leitor neste universo de culto as “mega stores”, e-commerce de todos os cantos do mundo, propagandas e liquidações?
A resposta pode residir na simplicidade do insubstituível contato pessoal ou na união daqueles que querem ultrapassar as barreiras dos ruídos promocionais.
Cientes da necessidade criar o próprio canal para falar ao leitor, um grupo de escritores curitibanos, seguindo a terceira opção, fez nascer Os Escritibas na Rua.

Paulo

Paulo

Brizola

Segundo Paulo Roberto de Jesus, a idéia foi gestada a partir da participação de escritores independentes nos Saraus Populares da FCC. Muitos poetas que compareciam aos eventos para mostrar sua poesia já tinham livros publicados, mas não contavam com acesso aos canais para comercialização. Coube a Luiz Carlos Brizola organizar a primeira reunião daqueles que hoje integram um grupo independente e com gestão autônoma .
Os Escribas na Rua organizam suas atividades em reuniões nas quais todo associado tem direito a voz e voto. Para  unir -se a eles é preciso que o escritor resida em Curitiba ou região metroplitana, contribua com as taxas e nas atividades previstas no regulamento.

Ainda segundo Paulo, “as publicações são responsabilidade de cada escritor. Alguns saem com selo de pequenas editoras, outros não (…)”. A escolha cabe ao autor.

O grupo tem apoio, mas não tem patrocinio. Cresce sustentado pelo empenho e contribuições de seus integrantes e tem garantido um ponto fixo para exposição e venda  de suas obras. Todos os domingo, no Largo, junto a Feira do Poeta, elas estão a disposição de quem busca uma nova leitura ou um bom livro para presente. Vale conferir essa verdadeira livraria independente, escolher sua próxima viagem ao universo da poesia ou prosa e quem sabe, conversar com o autor que a criou.

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