Lá vem Maria

A LITERATURA DE JOAQUIM SIMÕES

set 25, 2015 por

livros de Joaquim simões

livros de Joaquim simões

 

Faz pouco, concluí a leitura dos livros de Joaquim Simões. Sempres (poesia) li em 2014,  antes do lançamento oficial. O Fusquinha de Rosinha Albuquerque (crônicas) e Mamãe e o complexo do ovo (contos) foram as companhias na viagem da última semana, pela mineirice do avô materno que pouco conheci, mas que atravessou geração para impregnar meu jeito de ler o mundo. Desta viagem replico, sem pedir permissão ao autor, um pedacinho de “Véspera”, um dos contos que me cativaram.
“Como não me lembrar daquele festeiro moço sempre brincando, fazendo comentários tão óbvios, e ao mesmo tempo tão estonteantes, a respeito disto ou daquilo? Eu embasbacado? Só me restava chacoalhar a cabeça e concordar: é mesmo, né pai? ele ria de minha cordata idiotice, seus olhos claros me atravessando, como um alvo rio sereno atravessa, pelo meio, o verde e um arrozal.”

Boa surpresa para literatura Curitiba.

 

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Arte de barro

maio 29, 2014 por

vaso cerâmico e orquidea

vaso cerâmico e orquidea

peças em cerâmica com plantas de um maringaense

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mostruário antigo

mostruário antigo

resultaddo de oficina com adolescente

resultaddo de oficina com adolescente

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A Beleza do Singelo em Cordel do Amor Sem Fim

mar 29, 2014 por

Atores em conserva02Atores em conserva

Uma bela história, depois de vivida e acaba, continua bela quando bem contada. Foi assim que experimentei “Cordel do Amor Sem Fim”, peça de teatro de Claudia Barral, apresentada no Festival de Curitiba, 2014. Uma história contada em cena e música, com graça, simplicidade e encantamento.
Os adjetivos valem tanto para o texto, quanto para a montagem e a atuação de atores e músicos. Atores e músicos jovens, de um grupo criado em 2013 que fazem do enredo calcado na cultura popular brasileira, uma história que emociona pelo jeito de contar. A luz, feita com a mesma sutileza, ajuda a dar vida ao cenário e ao figurino, que transbordam criatividade. Cia. Atores em Conserva, da interiorana Tatui, prova que a singeleza, nas mãos de quem ama a arte é definitivamente bela.

Fotos de Erly Ricci

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CAMINHO SUAVE

jun 4, 2011 por


Sempre que volto à infância reencontro a menina franzina e acanhada, que gastava as tardes deitada no assoalho encerado e lustrado com escovão, metade do corpo sob a cama e livro aberto à frente. A mais miúda da turma, sempre. Talvez por isso a velha mesa de madeira, verde e fosca, ainda pareça grande e a menina continue ajoelhada sobre cadeiras de mesma cor.
Foi sobre a toalha de algodão cuidadosamente arranjada, que lá pelos sete anos, abriu a cartilha e ficou a cultuar secretamente a vaidade por saber ler. Passava de uma página a outra, corria os olhos sobre os aglomerados de letras, sem se ater aos desenhos. Ela sabia! Bastava olhar as palavras e, de imediato sabia reproduzir os sons ali aprisionados.
Mergulhada em abelhas, dados, dedos, facas e focas, não viu a mãe entrar. E ela observou algum tempo antes de interpelar. Você já sabe ler?
Ela sabia! Conseguia dizer o que cada amontoado de letras continha sem pestanejar e sem pestanejar foi apontando, falando, virando página e apontando e falando sem soletrar.
A mãe duvidou da precocidade do aprendizado. E duvidando tomou a cartilha e abriu na última página onde estava o alfabeto. Ordenou que a menina nomeasse cada letra, mas das letras, ali soltas, desligadas, perdidas, ela nada sabia. A mãe insistiu: talvez as vogais, talvez o “b” de barriga.
Talvez pudesse lembrar, mas a mãe duvidava e acho que a menina também.
Ainda ouviu a mulher, que saía decepcionada retrucar: você sabe ler coisa nenhuma, só decorou as palavras.
Ela sabia que não tinha decorado nada, nem mesmo o nome daquelas letras intrometidas e soltas. Só não sabia explicar. E despojada do encantamento fechou “O Caminho Suave”, foi para o quarto, enfiou metade do corpo sob a cama e lá ficou até adormecer.
Não demorou muito para que, numa noite, esquecendo o mundo ao redor se distraísse com as prateleiras repletas de bebidas. Eram tantas que esqueceu a presença da mãe e ficou a rodopiar os olhos. E assim, distraída, leu em voz alta rótulos e mais rótulos fixados nas garrafas. Conhaque, São João, Sparta, Aguardente, Oncinha, Tatuzinho… Logo foi interrompida pela mulher que encantada com a proeza, comemorava. Mas a menina franzina e acanhada não dividiu com ninguém a alegria de ser capaz.

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CRESCER OU PERTENCER?

maio 12, 2011 por

Poderia começar essa conversa ressaltando a necessidade que temos conviver com semelhantes, mas estaria valorizando apenas uma face da questão. A semelhança, para ter seu valor consolidado precisa da diferença.

Ao conviver com a diferença podemos ampliar nosso universo, descobrir outras formas de ver o mundo, redefinir pontos de vista, aprender e apreender novas soluções para nossos jeitos de arranjar as coisas da vida.

É claro que podemos rechaçar o que nos é estranho. E esta é apenas uma das possíveis reações frente ao novo. Mas é certo que algumas diferenças nos chocam. As vezes porque os valores nelas expressos ferem os nossos. Outras, porque nos apegamos ferrenhamente aos nossos padrões e as diferenças, apontando para mudanças necessárias, nos assustam.

Podemos, no entanto, ampliar nosso universo aprendendo com a diferença. Se entendermos os outros jeitos de ver e viver a vida como legítimos e nos colocarmos abertos e receptivos ao entendimento desses outros jeitos podemos importar o que é pertinente, provocando em nós mesmos, sínteses enriquecedoras.

Ainda assim, há diferenças impossíveis de serem superadas. Em especial, aquelas sustentadas por valores tão diversos dos nossos, que se absorvidas, nos tirariam de nosso próprio eixo.

Viver em sistemas destoantes da nossa índole provoca desconforto, estresses às vezes intransponíveis, faz com que nos sintamos  forasteiros, estranhos e desgarrados.

Experiências desta natureza provocam, com freqüência, o desejo de fincar os pés n’algo com que nos assemelhemos. São elas que nos fazem perceber os ônus do “não pertencer”, do “não estar entre iguais”. Com essa afirmação não quero desqualificar o valor da vida entre diferentes. Repito: a troca é essencial à ampliação de nossos universos, à promoção de mudanças e também para a revalorização e revitalização do que somos. Mas a semelhança nos permite o pertencimento e o sentimento de integração. Na semelhança nos reconhecemos e nos reafirmamos.

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ONDE ME ATENHO, MORRO

maio 9, 2011 por

Este texto traz as primeiras de uma série de colocações pautadas nos vinculos em suas múltiplas faces e versões.  Condensa muitos dos aspectos que serão posteriormente abordados e poderia servir como conclusão. Não sei se, no caso, a ordem altera ou não o resultado. Mas, se altera, espero que antes de ser compreendido, o tema seja apenas sentido.

ONDE ME ATENHO, MORRO

Não sei nomear o autor, mas sei que para além das regras, das normas e convenções há a lei, expressa na frase: onde me atenho, eu morro.

A doença vista por este ângulo assinala estagnação, bloqueio da aprendizagem necessária a transformação de obstáculos em crescimento ou interrupções na realização do potencial do individuo ou grupo.
Doença aqui, entendida sem as dicotomias ou fragmentações próprias do pensamento cartesiano; sem separação corpo – psique – alma, e sem desconexão da pessoa e seu universo familiar ou sociocultural. Mas reconhecida como sinalização do individuo, para si e para o grupo, que algo impede a vida de fluir.

 

Sim, porque vida é movimento em direção à evolução e à amplitude da consciência. Requer, ao longo do trajeto, conquista de uma gama maior de soluções às questões com as quais nos deparamos. Permite e exige, nas diferentes conjunturas, a ampliação de variáveis a serem construídas e consideradas. Conseqüentemente, nos leva à crescente flexibilidade e complexidade de nossos pontos de vista.
As afirmativas acima não remetem a corrida tecnológica ou à ruptura dos vínculos ou ao abandono dos grupos de pertencimento. Antes falam da situação paradoxal inerente ao ser humano: crescer e continuar sendo o que essencialmente é. Diferenciar-se, individualizar-se, mas manter suas raízes e consolidar o pertencimento. Referendar os valores que norteiam o posicionamento frente ao mundo, mas também reconstruí-los, redefini-los, para que em circunstâncias diversas, não se tornem disfuncionais.
Saúde é equilíbrio, ouvimos ou lemos freqüentemente. Mas o que significa equilíbrio? Quem pode nos dar medidas convenientes? Quem pode nos dizer onde ele começa ou acaba? Qual a receita?
Bem, aprendi acertando e errando que as medidas são de cada um e para cada situação e circunstância elas mudam. Equilíbrio para ser o que o nome diz, precisa ser construído e constantemente reconstruído, de acordo com diferentes pessoas em seus diversos contextos e diversos momentos.
Parece algo inatingível?
Difícil sim, inatingível não.
Difícil e variável. Somos pessoas. E pessoas são potentes e falíveis. Erram, acertam, reconstroem, ganham, perdem, resgatam. Muitas aprendem e crescem, muitas desistem e se alienam. Pessoas caminham em tempos e formas diferentes e por caminhos diversos.
Possível porque temos conosco o mapa. As informações que precisamos para escolhas pertinentes estão em nós.
Difícil exatamente porque não somos afeitos a apropriação de nossos sentimentos e a aceitação do que somos.
Possível porque nossas doenças ou nossas dores nos dão a oportunidade de vencer barreiras, corrigir rotas, aprender e mudar e, principalmente nos conectarmos com o universo que somos. Ou, de acordo com os ensinamentos de Edward Bach, positivar* o que nos adoece e aproximar personalidade e alma.

É verdade que vivemos em família, pertencemos a comunidades, somos pressionados ou induzidos a atender à lealdade grupal. Afinal a necessidade de pertencimento é inerente ao individuo. Resta então perguntarmos: se somos coniventes com a estagnação do grupo de pertencimento estamos sendo leais ou ajudando na produção da doença? E se buscarmos nossa própria transformação, realizando nosso potencial a lealdade fica comprometida, ou será que assim damos ao grupo a oportunidade de voltar ao movimento, ao crescimento, à aprendizagem?

Somos unidades complexas, impulsionados pela lei que rege a vida: evoluir, concretizando potenciais. Mas somos parte e respondemos as expectativas do todo ao qual pertencemos. E enquanto todo e parte, também participamos da estagnação ou da evolução e podemos interferir, reconotar e revitalizar valores, inserir novas possibilidades. E, enquanto positivamos o que nos adoece, enquanto aproximamos personalidade e alma, podemos dar ao grupo chance de se transformar sem, contudo, deixar de ser o que essencialmente é.

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