Lá vem Maria

Saudades do que não vivi

fev 13, 2017 por

casalTenho saudades de ti, Margarida.

Tenho saudades do teu carinho e de tuas caricias.

Talvez possa chamar-me tolo, mas maiores são as saudades dos prazeres que não vivi.

Nas noites em tua companhia não furtei-me a conduzir os afagos e a induzir intimidades, às vezes, beirando a determinação. Parti desconhecendo a entrega.

Não creias, terna amiga, que escrevo lamentações. São apenas confissões e além delas, está o desejo de dar-te a saber que reconheço o mundo de ternura que existia ao lado.

Mas é tarde, Margarida. Tarde para impedir que a inteireza da entrega sucumba a indignação. Vivi a guerrear contra o roubo da vida. Ingênuo, não vi que a minha, eu entregava aos ladrões.

Continuo a olhar o mundo com a zanga dos desajustados, mas não posso furtar-me ao discernimento. Reconheço que fui pego em vil armadilha. Lutei com as armas dos ladrões, deixei que tomassem os sentidos e os sentimentos, e contaminassem sonhos e crenças. Dei-me a ira e a gana de vencer a batalha. Quem está  tomado a luta insana, não pode dar-se ao afeto.

Mas não é tarde, Margarida. Não é tarde para mudar as armas. Encontro na tua capacidade de resistir aos chamamentos da violência, os meios para barrar em mim, a vitória dos ladrões de vida.

Cultivo hoje, a força silenciosa que recebi de ti.

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