Lá vem Maria

Resgate

maio 26, 2011 por

O mar revolto não impedia o avanço. O repuxo, provocado por ondas em rochas também não. Lembrava o navio antigo e descolorido, sabia identificar a exata posição em mar aberto. Quase o via.

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DA NATUREZA DE DEUS

maio 21, 2011 por

 

 

“Deus não cobra estresse, apenas trabalho disciplinado e doado com amor”

Gilda Moura

 

Mas o que sei de Deus?

 

 

 

 

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La vem Maria

maio 4, 2011 por

La vem Maria

enrolada em seus trapos que chamam de manto.

Com papel e lápis,

retratando a cidade

e seus rostos torpes ou belos,

lá vem Maria.

Maria que é gueixa e também guerreira.

Maria menina.

Maria senhora.

Maria travessa.

Maria que é a Maria que somos.

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A LUA DO MEU QUINTAL

maio 4, 2011 por

A lua salta sobre nuvens como se fossem fundo. Auréolas a contornam, do branco ao ferrugem.

Ela passeia entre nuvens ou as nuvens passeiam?

Talvez tudo se mova com agilidade, embora de meu ponto de vista, siga em lenta leveza.

No trajeto, grumos escuros e pesados cerceiam o brilho. Mas grumos são passageiros, como passageiro é o momento de agora. Parecem sem movimento, mas as formas que tomam o céu se alteram.

Aqui no meu quintal o zunzunar dos grilos oscila e persiste. Parecem alheios à lua, às nuvens e aos meus pensamentos que disputam atenção com o céu.

Bastou esperar e do outro lado dos grumos a luz quase arredondada reaparece. De novo provoca ilusão, fingindo sobrepor-se à camada branca e, de novo, produz arcos, do translúcido ao  ferrugem. Mas o movimento continua e a lua escorrega rumo à próxima barreira.

As barreiras é que se movem, diria um anjo torto, que um dia tropeçou e caiu. Sem preparo para esse mundo andou atropelando e sendo atropelado, até que sumiu. Talvez esteja lá, entre tolhas brancas e felpudas,  pintando pontos de luz.

Ele insistiria na correção: os pontos são estrelas que estão a distâncias inimagináveis e muitas já deixam de iluminar o universo.

Os pontos logo somem para reaparecer mais tarde, sem nenhum pudor, enquanto aqui, um vagalume passeia na árvore escura, disputando com as projeções do infinito, mas logo cansa do próprio assanhamento e desaparece, apagado e silencioso.

Um novo ponto de luz, semelhante ao vagalume e às estrelas, guardada a distância e a proporção, corta o céu.  É só um avião que leva muitos para além das nuvens, mas não da lua.

No meu quintal a noite é  fresca e os grilos persistem na cantoria. Posso ficar ou sair, rir, chorar, brigar ou orar. Talvez possa fazer com que os vagalumes desistam, mas não posso cercear a lua ou as estrelas.

O mundo prescinde dos humanos e de suas guerras, sejam pequenas ou grandes.

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DE ONDE SOU?

maio 3, 2011 por

Do lugar onde moro posso ver o Pico Paraná atracado à cadeia de montanhas que cerca a baía. Também posso acompanhar o sol pintando o céu em cores não encontradas nos mostruários de tinta, enquanto se esconde atrás dos morros. Ainda ontem emprestou às bordas das nuvens um alaranjado cintilante e ao céu, o rosa, o lilás e o azul.

Nas tardes de outono o vento faz tremular a superficie da água do mar de mangue, onde aportam os barcos dos pescadores da região.

O mar do lugar onde moro não explode em ondas volumosas e barulhentas. Apenas obedece ao tempo de cada maré e avança sobre a vegetação que o contorna para depois recuar, deixando à mostra os buracos dos caranguejos.

Mas, apesar do deleite, confesso: não sou daqui.

De onde sou?

Creio que nos últimos anos uma centena de pessoas, ou mais, quis saber de onde sou. Passado o momento do desacerto, recorro à história oficial e respondo que sou do norte do Paraná.  As vezes faço referencia a cidadezinha agricola, que hoje tem ruas asfaltadas, mas que no tempo de minha infância eram de pó ou barro vermelho e grudento. Descartada a resposta oficial, diria: sou de lugar algum. Experimentei cidades e vilas, experimentei jeitos de viver, aprendi coisas aqui e acolá, mas em apenas dois lugares não me senti exilada: na Ilha do Mel e na região do Andes, entre La Paz e Machu Pichu. De resto, sempre fui estrangeira em meu país.

Dia desses passei um final de semana numa “vila rural”. A terra, as plantações, os agricultores nas suas lavouras quando o sol ainda tentava furar a névoa, as familias extensas no entorno da longa mesa de uma ampla cozinha, a simplicidade, os valores claros e os vínculos firmes içaram o que sou.

Continuo sendo de lugar algum, mas sei que em meio ao alvoroço do mundo, há aqueles a quem me assemelho.

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