Lá vem Maria

A LUA DO MEU QUINTAL

maio 4, 2011 por

A lua salta sobre nuvens como se fossem fundo. Auréolas a contornam, do branco ao ferrugem.

Ela passeia entre nuvens ou as nuvens passeiam?

Talvez tudo se mova com agilidade, embora de meu ponto de vista, siga em lenta leveza.

No trajeto, grumos escuros e pesados cerceiam o brilho. Mas grumos são passageiros, como passageiro é o momento de agora. Parecem sem movimento, mas as formas que tomam o céu se alteram.

Aqui no meu quintal o zunzunar dos grilos oscila e persiste. Parecem alheios à lua, às nuvens e aos meus pensamentos que disputam atenção com o céu.

Bastou esperar e do outro lado dos grumos a luz quase arredondada reaparece. De novo provoca ilusão, fingindo sobrepor-se à camada branca e, de novo, produz arcos, do translúcido ao  ferrugem. Mas o movimento continua e a lua escorrega rumo à próxima barreira.

As barreiras é que se movem, diria um anjo torto, que um dia tropeçou e caiu. Sem preparo para esse mundo andou atropelando e sendo atropelado, até que sumiu. Talvez esteja lá, entre tolhas brancas e felpudas,  pintando pontos de luz.

Ele insistiria na correção: os pontos são estrelas que estão a distâncias inimagináveis e muitas já deixam de iluminar o universo.

Os pontos logo somem para reaparecer mais tarde, sem nenhum pudor, enquanto aqui, um vagalume passeia na árvore escura, disputando com as projeções do infinito, mas logo cansa do próprio assanhamento e desaparece, apagado e silencioso.

Um novo ponto de luz, semelhante ao vagalume e às estrelas, guardada a distância e a proporção, corta o céu.  É só um avião que leva muitos para além das nuvens, mas não da lua.

No meu quintal a noite é  fresca e os grilos persistem na cantoria. Posso ficar ou sair, rir, chorar, brigar ou orar. Talvez possa fazer com que os vagalumes desistam, mas não posso cercear a lua ou as estrelas.

O mundo prescinde dos humanos e de suas guerras, sejam pequenas ou grandes.

ler mais