Lá vem Maria

ver-viver-vida

dez 19, 2013 por

 

bonecos do Mandicuera, foto Silzi Mossato

bonecos do Mandicuera, foto Silzi Mossato

Gosto de ver a vida movendo fios e fios tecendo vidas e pessoas desatando nós de fios que tecem para si e desmanchando emaranhados e ordenando obras de arte.

 Em tempos, enredos assemelhados a Morte e Vida Severina de seca de água e afeto e nova vida desabrochando e crença perdida enverdejando.

 Em tempos, o mergulho no mar de emaranhados e o debater-se perdendo a si e iniciando escalada em íngreme montanha e ao topo ganhar o mundo com os olhos que abarcam a paisagem colorida e de bela contradição.

                                               Gosto de ver a vida e viver vendo a vida tecer a vida.

 

 

 

 

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(des)Equilibrista

dez 14, 2013 por

silzi corda bamba1

Ando feito equilibrista bêbada em corda bamba

Adicta,

Reincido.

Grito.

Chamo pela luz do sol.

Preciso do riso.

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RUPTURA

ago 23, 2013 por

Os olhos…aqueles olhos.

Os olhos que ela buscava. Olhos de apoio, olhos de confirmação, olhos afetuosos, olhos de aliança, olhos que abraçariam seu corpo hipotérmico e acenderiam a fé.
Os olhos, aqueles olhos foram olhos conflitivos, depois frios e depois…Depois foram olhos nos quais ela se viu indigna, pérfida, incapaz.

Olhos que a retratavam denegrida. Olhos que a atravessavam como a fria lamina da faca ao lado.
Quis se refazer, se redesenhar, se repaginar naqueles olhos. Mas era nada. Era vazio, era coisa alguma e se era alguma coisa era coisa menor, era menos, um monstrengo, uma deformação de mulher.

Ainda se debatia, tentava puxar um fio do que era, e quanto mais tentava, mais se enredava naquela coisa, e quanto mais se enredava mais tentava e mais queria que aqueles olhos aquecessem, aquiescessem, acariciassem e mais nada era, coisa nenhuma, coisa disforme.
Mais tentava, mais sentia a prisão,  e palavra alguma tinha efeito contrario, senão mais e mais tinha efeito de corte de faca de fio afiado. Corte da faca ao lado.

Era nada e nada não vive e se vive por que vive? Para que vive o tormento?
Palavra nenhuma, argumento algum, fala alguma desfazia o frio dos olhos que retaliavam.

Gritava todos os gritos e grito algum alterava nada e nos olhos o retrato indigno e definitivo a prendiam e destroçavam o que poderia ser. Destroçavam com finos cortes, como seriam finos e frios os cortes da faca ao lado.
A faca ao lado no pulso… a faca ao lado …
Nenhum grito, nenhuma palavra, nenhum argumento…Os olhos a retratavam e prendiam e denegriam e ela sabia que era preciso romper, sair, escapulir.
A faca ao lado… a faca no pulso…
A alma gritando tormento: o fio da faca, não!

A luta, a sombra vazia, a faca no pulso. A faca não!

Precipitou-se porta à fora, apanhou o pano branco que balançava no varal, cobriu a cabeça e fugiu.

Palavras, nunca mais falou.

Gritos, nunca mais gritou.

Olhos acusadores, nunca mais olhou.

 

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O outro lado do cinza

mar 30, 2013 por

Mulheres esqueléticas, enrugadas e cinza, com cabelos cinza, pele cinza, olhos cinza, vestimentas cinza, segurando vassouras e ancinhos cinza, que varriam cinzas no espaço concavo e cinza.

Fumaça cinza subindo do chão cinza revolvido pelas mulheres cinza.

Nas cinzas,  moldavam o que haveria de vir.

 

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FRACTAL

abr 18, 2012 por

Na imensidão da areia clara e fina ia titubeando. Sentia que os pés enterravam na areia, mas mantinha os olhos no céu. Logo a areia solta desapareceria e os pés poderiam deslizar na massa molhada e pesada. E a água salgada chegaria em ondas e cobriria os rastros e arrastaria grãos e jogaria estrelas para fora e puxaria moluscos para dentro de si. Os olhos de agora seguiam o pássaro enquanto a memória puxava pela imagem capturada pelos olhos de outra era.

Não era o mesmo pássaro. Com certeza, não era. Pássaros não atravessam séculos. Almas sim. Almas atravessam. Mas atravessariam como indissolúveis holos? Ou talvez, imitando o Big Bang, explodissem, espalhando partículas coloridas e disformes, que ao acaso, se reuniriam em outros holos, repletos de lembranças desencontradas? Seria assim com os pássaros? E aquele à frente, que insistia em ir e vir, como se a tentasse conduzir a um local designado, seria remanescência de outros tempos? Traria nalgumas partículas, memórias inconclusas e disformes, como lhe ocorria?

A areia molhada não deixava que os pés deslizassem. A água formava fina lâmina e espelhava o sol, mas não retirava a aspereza que a natureza lhe impunha. Quantas vezes teria afundado os pés naquele pedaço de praia? Dezenas. Talvez centenas. Mas os pés não haviam registrado a aspereza. Os olhos sim, gravavam as idas e vindas de um pássaro. Seria o mesmo, ou haveria acordo entre os semelhantes e todos exercitavam-se na mesma rota? Qual o número de partículas mnemônicas seriam necessárias para construir um pássaro?

A faixa molhada sumia e reaparecia, fazendo a vontade do mar. E o pássaro atingia o cume do morro e voltava e a contornava e tocava o cume e de novo manobrava para retornar. Os olhos atuais cansaram de seguir o bailado das asas. Os pés cansaram da areia banhada pela água salgada. O corpo, fatigado, ganhou o chão fresco, deleitando-se com a brisa.

O corpo do pássaro não cansava.  Ia e vinha e rodeava e fazia manobras e recrutava novo pássaro na memória de outra era. O pássaro de seu afeto, que pousava em seu braço, apanhava alimento de suas mãos, soltava sons esganiçados e ganhava o céu, sem nunca perde-se na imensidão azul ou branca.

À memória do som estrídulo, respondeu  fixando os olhos na pedra aguda que ponteava o morro, onde o pássaro de agora abria e fechava as asas. A ave repetiu o movimento incontáveis vezes e subiu ao céu, deixando no lugar a figura apenas delineada e transparente de um velho. Os olhos de agora nada viam, mas os da memória cobriram o delineamento de traços, dando forma a poderosa figura.

Perdeu-se do mundo ao redor. Migrou para a pedra de outra era e através dos olhos da imagem recriada, viu o mar arrastando o corpo para dentro de si. Do alto de seu penhasco, a poderosa imagem, a via morrer, inerte.

Novo canto estridente e os olhos pousaram no fractal que o sol dispunha no pico do morro. Almas em fragmentos e que ainda assim,  atravessam o tempo e o espaço como indissolúveis holons.

 

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