jun 28, 2011 por Silzi Mossato
Estava com a mão no barro, modelando sem pressa e quando faço isso a alma flui, as coisas que mais quero afloram, as ideias e imagens saltam com limpidez de água de fonte em leito de pedras. Mas às vezes a perplexidade ganha primeiro plano.
Já não tenho acesso ao lugar de minha preferência. Desde a catástrofe de março o mirante está interditado. O bairro da Laranjeira, no caminho e entre morros, praticamente deixou de existir.
Antonina, um lugarejo ao pé da serra, a beira de uma baía onde o mar sequer faz ondas e a água da chuva deveria ter curso livre ao vasto mangue, foi inundada e sofreu com deslisamentos .
Desastre causado por chuvas torrenciais. Mas há agravantes: assoreamento, pequena parte natural, muito causado pela retirada de vegetação das margens dos rios; ocupação inadequada e construção de usina (embora a Copel negue com veemência); recortes em morros íngremes para construção irregular; construções que impediram o curso da água dos morros ao mar, como uma quadra de esportes ao lado de uma escola, que este ano já vi ser inundada pelo menos três vezes . E, o fator recorrente: rede de escoamento inadequada.
Enquanto vivíamos nossa pequena tragédia, no mesmo dia, ou na mesma noite, do outro lado do mundo, uma catástrofe de dimensão incomensurável, pois o efeito do que aconteceu no Japão não tem prazo de validade.
Podemos olhar de outro ângulo: O MUNDO SE TRANSFORMA, A VIDA TEM SUAS GUINADAS E COSTUMA ASSUMIR CURSOS IMPREVISÍVEIS E INCONTROLÁVEIS.
Aí está, a teoria transformada em fatos. Pouco tempo atrás as placas tectônicas se moveram na costa do Chile, provocando desastres e deslocando o eixo da terra. Coisa mínima, disseram os especialistas. Entre os dois fatos, uma cadeia de fenômenos, em diferentes pontos do globo. Esse, da costa do Japão, levou a outro deslocamento do eixo da terra, também mínimo e segundo especialistas, irrelevante. E os especialistas também disseram que as nuvens radioativas japonesas não chegariam nem mesmo aos países próximos ao Japão. Eles parecem ignorar que a TERRA é uma unidade, uma teia, uma rede indissolúvel de realimentação (positiva e negativa) , repleta de conexões entre as PARTES e entre elas e o TODO, e que um e outro detém informações a respeito de tudo (só para lembrar o que mostra Gregory Batson, em Natureza e Espírito).
Embora os aparelhinhos dos especialistas neguem terminantemente, já somos (poderia dizer fomos, mas o verbo não refletiria o pensamento) atingidos.
Mas as mudanças do mundo ultrapassam o plano biofísico e o químico.
Países do Oriente Médio, de princípios e religiões conservadores, enfrentam ditadores e pregam renovação. Os grandes capitalistas, mesmo na eminência de uma catástrofe nuclear, que pode ter efeitos maiores que maremotos e erupções vulcânicas, relutam em limitar a energia nuclear.
A FRAGILIDADE DA VIDA DOS SERES QUE SE PENSAM ACIMA DOS ANIMAIS (concebidos como irracionais) ESTÁ EM EVIDÊNCIA.
As bactérias, que na eminência de risco alteram e esparramam seus genes, e o fazem em rede para preservar espécies, cumprem percurso oposto ao do homem, que antes jogou bombas atômicas em cidades japonesas, fez e faz testes de armas de todos os tipos em áreas desertas ou não tão desertas, porque a vida também existe ali. E sem pestanejar, provocou e provoca explosões no fundo do mar, sem dar valor às consequências.
Janela catastrófica?
Apenas um momento nostálgico que antecede à pergunta:
O QUE REALMENTE TEM VALOR?
Estar próximo aos meus filhos e de outras pessoas queridas, vê-los desenrolar o fio de suas vidas, cultivar afetos, dispor o conhecimento que acumulei aos trancos e barrancos a eles e àqueles que possam fazer bom uso. Escrever, cuidar de plantas e modelar algumas peças nos intervalos
Se nos derem um tempinho a mais, viajar de vez em quando, pra olhar outros jeitos de viver.
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