Lá vem Maria

A PALAVRA É RECONCILIAÇÃO

jun 22, 2011 por

O mundo que vejo depende da janela que abro. Nalgumas, o descalabro, o abuso, a submissão, aportes da tristeza e descrença. Noutras, a inocência, o otimismo, o comprometimento, a solidariedade e a simplicidade de quem segue cuidando dos seus.

 

Neste contraditório mundo há tantas janelas e tantos mundos quanto meus olhos queiram.

 

Escolhi abrir a boa janela da arte.

 

Primeiro a da palavra, do gesto, da postura, da interpretação irretocável de Toni Ramos e Dan Stulbach no filme Em Tempos de Paz. O descalabro transfigurado em poesia de corpo e voz, a adaptação da peça de Bosco Brasil, é quase teatro na tela.

Um filme remete a outro. Retratos da Vida, de Claude Lelouch com coreografia de Maurice Bèjart, tem na música e na dança suportes para desnudar o absurdo com sensibilidade.  No elenco Geraldine Chaplin, James Caan, Robert Houssein, Nicole Garcia, Fanny Ardant, Jorge Donn, Rita Poelvoorde.

Mais de vintes anos separam Tempos de Paz e Retratos da Vida. Uma palavra os une:

RECONCILIAÇÃO.

E por falar em arte, na belissima ilustração de Erly Ricci, o por do sol na Ponta da Pita, Antonina, Pr. As fotos também são dele.

 

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CAMINHO SUAVE

jun 4, 2011 por


Sempre que volto à infância reencontro a menina franzina e acanhada, que gastava as tardes deitada no assoalho encerado e lustrado com escovão, metade do corpo sob a cama e livro aberto à frente. A mais miúda da turma, sempre. Talvez por isso a velha mesa de madeira, verde e fosca, ainda pareça grande e a menina continue ajoelhada sobre cadeiras de mesma cor.
Foi sobre a toalha de algodão cuidadosamente arranjada, que lá pelos sete anos, abriu a cartilha e ficou a cultuar secretamente a vaidade por saber ler. Passava de uma página a outra, corria os olhos sobre os aglomerados de letras, sem se ater aos desenhos. Ela sabia! Bastava olhar as palavras e, de imediato sabia reproduzir os sons ali aprisionados.
Mergulhada em abelhas, dados, dedos, facas e focas, não viu a mãe entrar. E ela observou algum tempo antes de interpelar. Você já sabe ler?
Ela sabia! Conseguia dizer o que cada amontoado de letras continha sem pestanejar e sem pestanejar foi apontando, falando, virando página e apontando e falando sem soletrar.
A mãe duvidou da precocidade do aprendizado. E duvidando tomou a cartilha e abriu na última página onde estava o alfabeto. Ordenou que a menina nomeasse cada letra, mas das letras, ali soltas, desligadas, perdidas, ela nada sabia. A mãe insistiu: talvez as vogais, talvez o “b” de barriga.
Talvez pudesse lembrar, mas a mãe duvidava e acho que a menina também.
Ainda ouviu a mulher, que saía decepcionada retrucar: você sabe ler coisa nenhuma, só decorou as palavras.
Ela sabia que não tinha decorado nada, nem mesmo o nome daquelas letras intrometidas e soltas. Só não sabia explicar. E despojada do encantamento fechou “O Caminho Suave”, foi para o quarto, enfiou metade do corpo sob a cama e lá ficou até adormecer.
Não demorou muito para que, numa noite, esquecendo o mundo ao redor se distraísse com as prateleiras repletas de bebidas. Eram tantas que esqueceu a presença da mãe e ficou a rodopiar os olhos. E assim, distraída, leu em voz alta rótulos e mais rótulos fixados nas garrafas. Conhaque, São João, Sparta, Aguardente, Oncinha, Tatuzinho… Logo foi interrompida pela mulher que encantada com a proeza, comemorava. Mas a menina franzina e acanhada não dividiu com ninguém a alegria de ser capaz.

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Resgate

maio 26, 2011 por

O mar revolto não impedia o avanço. O repuxo, provocado por ondas em rochas também não. Lembrava o navio antigo e descolorido, sabia identificar a exata posição em mar aberto. Quase o via.

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DA NATUREZA DE DEUS

maio 21, 2011 por

 

 

“Deus não cobra estresse, apenas trabalho disciplinado e doado com amor”

Gilda Moura

 

Mas o que sei de Deus?

 

 

 

 

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CRESCER OU PERTENCER?

maio 12, 2011 por

Poderia começar essa conversa ressaltando a necessidade que temos conviver com semelhantes, mas estaria valorizando apenas uma face da questão. A semelhança, para ter seu valor consolidado precisa da diferença.

Ao conviver com a diferença podemos ampliar nosso universo, descobrir outras formas de ver o mundo, redefinir pontos de vista, aprender e apreender novas soluções para nossos jeitos de arranjar as coisas da vida.

É claro que podemos rechaçar o que nos é estranho. E esta é apenas uma das possíveis reações frente ao novo. Mas é certo que algumas diferenças nos chocam. As vezes porque os valores nelas expressos ferem os nossos. Outras, porque nos apegamos ferrenhamente aos nossos padrões e as diferenças, apontando para mudanças necessárias, nos assustam.

Podemos, no entanto, ampliar nosso universo aprendendo com a diferença. Se entendermos os outros jeitos de ver e viver a vida como legítimos e nos colocarmos abertos e receptivos ao entendimento desses outros jeitos podemos importar o que é pertinente, provocando em nós mesmos, sínteses enriquecedoras.

Ainda assim, há diferenças impossíveis de serem superadas. Em especial, aquelas sustentadas por valores tão diversos dos nossos, que se absorvidas, nos tirariam de nosso próprio eixo.

Viver em sistemas destoantes da nossa índole provoca desconforto, estresses às vezes intransponíveis, faz com que nos sintamos  forasteiros, estranhos e desgarrados.

Experiências desta natureza provocam, com freqüência, o desejo de fincar os pés n’algo com que nos assemelhemos. São elas que nos fazem perceber os ônus do “não pertencer”, do “não estar entre iguais”. Com essa afirmação não quero desqualificar o valor da vida entre diferentes. Repito: a troca é essencial à ampliação de nossos universos, à promoção de mudanças e também para a revalorização e revitalização do que somos. Mas a semelhança nos permite o pertencimento e o sentimento de integração. Na semelhança nos reconhecemos e nos reafirmamos.

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