Lá vem Maria

O CAMINHO DO OUTRO

jul 15, 2011 por

 

Certo, errado, bom, ruim, bonito, feio, confiável, desonesto: ínfima lista de infinitos julgamentos.

Alegria e tristeza, vitória e fracasso, reconhecimento  e anonimato,  frustração e realização: poucos exemplos de inúmeras polarizações .

Ética, justiça, disciplina, integridade, confiabilidade, desapego, força, determinação:  alguns valores que sustentam julgamentos e posições.

É possível explicar condutas  a partir dos valores. Mas não sei se a teorização nos possibilita compreender o outro.

foto:silzi mossato

 

Há quem faça das habilidades, dádivas. Outros, sementes em solo árido.

Uns brilham sem grandes esforços.Outros colhem parcos frutos depois de muita labuta.

 

Cada individuo vive sua história como mergulhador em mar denso. Mas basta olhar a distância para  enxergar saídas, caminhos e possibilidades que o dono de outra história não vê. E sem discernimento,  o julgamos. Ou tentamos incansavelmente apontar uma direção, mostrar rotas,  puxar pela mão, empurrar para situações que avaliamos como a melhor.

A vida, enfim nos diz: O CAMINHO DO OUTRO É DO OUTRO. Podemos estender a mão, apoiar, ajudar, mas cabe a cada pessoa  a escolha e suas consequências.

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AS BACTÉRIAS SABEM DAS COISAS

jun 28, 2011 por

Estava com a mão no barro, modelando sem pressa e quando faço isso a alma flui, as coisas que mais quero afloram, as ideias e imagens saltam com limpidez de água de fonte em leito de pedras. Mas às vezes a perplexidade ganha primeiro plano.

Já não tenho acesso ao lugar de minha preferência. Desde a catástrofe de março o mirante está interditado. O bairro da Laranjeira, no caminho e entre morros, praticamente deixou de existir.

Antonina, um lugarejo ao pé da serra, a beira de uma baía onde o mar sequer faz ondas e a água da chuva deveria ter curso livre ao vasto mangue, foi inundada e sofreu com deslisamentos .

Desastre causado por chuvas torrenciais. Mas há agravantes: assoreamento, pequena parte natural, muito causado pela retirada de vegetação das margens dos rios; ocupação inadequada e construção de usina (embora a Copel negue com veemência); recortes em morros íngremes para construção irregular; construções que impediram o curso da água dos morros ao mar, como uma quadra de esportes ao lado de uma escola, que este ano já vi ser inundada pelo menos três vezes . E,  o fator recorrente:  rede de escoamento inadequada.

Enquanto vivíamos nossa pequena tragédia, no mesmo dia, ou na mesma noite, do outro lado do mundo, uma catástrofe de dimensão incomensurável, pois o  efeito do que aconteceu no Japão não tem prazo de validade.

Podemos olhar de outro ângulo: O MUNDO SE TRANSFORMA, A VIDA TEM SUAS GUINADAS E COSTUMA ASSUMIR CURSOS IMPREVISÍVEIS E INCONTROLÁVEIS.

Aí está, a teoria transformada em fatos. Pouco tempo atrás as placas tectônicas se moveram na costa do Chile, provocando desastres e deslocando o eixo da terra.  Coisa mínima, disseram os especialistas.  Entre os dois fatos,  uma cadeia de fenômenos, em diferentes pontos do globo. Esse, da costa do Japão, levou a outro deslocamento do eixo da terra, também mínimo e segundo especialistas, irrelevante. E os especialistas também disseram que as nuvens radioativas japonesas não chegariam nem mesmo aos países próximos ao Japão. Eles parecem ignorar que a TERRA é uma unidade, uma teia, uma rede indissolúvel de realimentação (positiva e negativa) , repleta de  conexões  entre as PARTES e entre elas e o TODO, e que um e outro detém informações a respeito de tudo (só para lembrar o que mostra Gregory Batson, em Natureza e Espírito).

Embora os aparelhinhos dos especialistas neguem terminantemente, já somos (poderia dizer fomos, mas o verbo não refletiria o pensamento) atingidos.

Mas as mudanças do mundo ultrapassam o plano biofísico e o químico.

Países do Oriente Médio, de princípios e religiões conservadores, enfrentam ditadores e pregam renovação. Os grandes capitalistas, mesmo na eminência de uma catástrofe nuclear, que pode ter efeitos maiores que maremotos e erupções vulcânicas, relutam em limitar a energia nuclear.

A FRAGILIDADE DA VIDA DOS SERES QUE SE PENSAM ACIMA DOS ANIMAIS (concebidos como  irracionais) ESTÁ EM EVIDÊNCIA.

As bactérias, que na eminência de risco alteram e esparramam seus genes, e o fazem em rede para preservar espécies, cumprem percurso oposto ao do homem, que antes jogou bombas atômicas em cidades japonesas, fez e faz testes de armas de todos os tipos em áreas desertas ou não tão desertas, porque a vida também existe ali. E sem pestanejar, provocou e provoca explosões no fundo do mar, sem dar valor às consequências.

Janela catastrófica?

Apenas um momento nostálgico que antecede à pergunta:

O QUE REALMENTE TEM VALOR?

Estar próximo aos meus filhos e de outras pessoas queridas, vê-los desenrolar o fio de suas vidas, cultivar afetos, dispor o conhecimento que acumulei aos trancos e barrancos a eles e àqueles que possam fazer bom uso. Escrever, cuidar de plantas e modelar algumas peças nos intervalos

Se nos derem um tempinho a mais, viajar de vez em quando, pra olhar outros jeitos de viver.

 

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