Lá vem Maria

O Segundo Mandamento

abr 19, 2016 por

A votação ainda estava acontecendo, mas as charges e piadas relacionadas já inundavam as mídias sociais. Creio que é pertinente afirmar que esse humor ácido foi a forma encontrada pelos brasileiros para extravasar a indignação provocada o circo de horrores da Câmara Federal, do dia 17 de abril de 2016.
Nós tivemos um revés. Dependendo do curso da história e, o Senado indica essa possibilidade, o revés pode se transformar em derrota.
Nós, no caso, não faz referencia direta ao PT, ao PCdoB, ao PDT ou a esquerda brasileira em geral. O pronome representa trabalhadores rurais, comerciais e industriais.  Indica pequenos agricultores,  prestadores de serviço,  microempreendedores individuais,  profissionais liberais que não atendem aos mais ricos,  profissionais da cultura e da educação. Está representando os Sem Terra, Sem Teto e outros tantos que não participam da divisão do bolo.
Mas, mesmo consciente dos riscos, não esperem ver em mim algum sinal de derrota. Aprendi com as plantas forrageiras do meu quintal que quando arrancadas já espalharam sementes e deitaram raízes para longe de caules e folhas. Plantas que as vezes parecem extintas, mas que depois da primeira chuva ou no fim do inverno, renascem e se alastram. E sempre haverá a próxima chuva, o próximo inverno e a próxima oportunidade.
Não nego que há possibilidade de morte pelo excesso de golpes. Mas sei também que as plantas se protegem e trabalham sem alarde, silenciosamente, compondo uma rede. Morrem aqui e nascem acolá.
Não esperem me ver derrotada frente ao descalabro. Antes declaro, sem mesuras, o meu orgulho de estar a esquerda das cenas lastimáveis, trazidas à público por uma casa que deveria nos representar.
Não me deixei derrotar depois de ver mais de trezentos parlamentares agindo como atores canastrões e repetindo justificativas patéticas, mal ensaiadas, que não enganariam nem aos próprios.
Antes, declaro sem medo, que enquanto eles descumpriam o segundo mandamento e tomavam o nome de Deus em vão, crescia a  minha convicção de que Deus é consciência plena, que as escolhas devem ser feitas em nome próprio e que o louvor só pode ser prestado mediante o exercício dos mandamentos.
Enquanto aqueles que deveriam proteger o país, jogam a nação aos predadores, em nome de suas religiões, declaro sem dúvidas, que se essa for a pratica de suas igrejas, prefiro orar no silêncio de meu quarto.
Não me coloquei derrotada depois da traição na votação das Diretas Já! E depois de assistir a essa nova traição, justificada pelas pessoas que se dizem “de bem”, com mentira de que atendem aos anseios populares, escolho estar à margem e aviso que nunca tiveram meu aval para falar em meu nome.
Não estive derrotada nem mesmo depois assistir um parlamentar acusado de inúmeros crimes, para quem a Procurador Geral da Republica pediu 184 anos de prisão, comandar um processo de impedimento. E também não estarei quando a mídia espúria do meu país gastar horas de seus noticiários e páginas de seus jornais e revistas com as denúncias sem provas, usadas para incitar a crença de que impedimento é necessário.  também não vou sucumbir frente a propaganda enganosa que pregou e pregará a ideia que a troca de presidente beneficiará o país,  quando,na verdade, atenderá apenas aos  interesses do grupo mais abastado do país. Isto, caso sobrevivam aos predadores que invadirão nosso território.
Não me coloco derrotada porque minha força independe das campanhas anti crença dessa mesma mídia. Sou imune a elas. Conheço seus artifícios e antes de dar-me ao desolamento, prefiro semear o que sei.
Não me deixo abater também por vivenciar a outra face do processo e o torno público. Meu ânimo tem vários motivos, mas destaco os principais. O primeiro foi verificar que aqueles que receberam meu voto o honraram. São parlamentares conscientes, conhecedores e respeitadores da Constituição Federal e capazes de denunciar as ações que a violam . São parlamentares que não precisaram submete-se, nem viver a sombra de mandantes espectrais.
Aqueles a quem confiei meu voto não pactuam com a entrega do solo e subsolo para as mesmas petroleiras que, em associação com a industria do armamento, dizimaram todo Oriente Médio e outros países em outros continentes.
Aqueles que escolhi para me representar fazem parte de um grupo não muito grande. No caso da Câmara Federal, o número não foi suficiente para barrar o golpe. Mas espero que sejam exemplo, que se multipliquem, que trabalhem incansavelmente para não deixar que os direitos trabalhistas sejam excluídos ou que as vozes das minorias seja caladas.
Tivemos um revés e temos o risco de que a situação se repita no Senado, mas não estive nem estarei derrotada, porque vivi esse processo em meio a uma multidão.  Pessoas, que mesmo perdendo a votação, continuavam a cantar “não vai ter golpe! ”
Uma multidão de gente de diferentes grupos sociais, das mais diversas vertentes culturais e diferentes idades, que seguiam a votação repudiando a farsa da maioria dos deputados e deputadas, com suas justificativas inventadas por algum marqueteiro medíocre que fez questão de inserir ideias expressas por Lula ao jornalista Glenn Greenwal. Uma multidão que comemorava cada voto contra o impedimentos e reforçava o voto de “vai ter luta!” Jovens, que de alienados não tem nada. Pessoas que com um terço de minha idade esbanja consciência.
Tenho esperança e a cada dia espalharei o que sei e buscarei o que meus parceiros sabem. Tenho esperança e a cada dia cuidarei das sementes e das raízes para que se alastrem e prevaleçam.

Não pensem que não tenho criticas ao governo do PT. Tenho muitas. De meu ponto de vista ocorreram erros e os principais foram de logística. Em 2005, quando os diversos grupos da velha mídia agiram em rede e atuaram sistemática e incansavelmente para minar o PT e, em particular àqueles que parecem, foram eleitos como os construtores das políticas de governo, nenhuma medida relevante foi tomada. Em pleno caos mundial, com o planeta a beira de um colapso ambiental e social,  a equipe de governo seguiu acreditando que o sistema capitalista tem jeito e pode atender as necessidades daqueles que não são donos dos meios de produção. Seguiu em rota de colisão com os próprios militantes, a maioria formados pelas ações nas bases do mesmo PT.

Mas se tenho críticas, também percebo que muito foi aprendido e que há chance de rever a rota. E se a equipe de governo entendeu que é necessário rever suas escolhas, os militantes, mesmo em desacordo com a gestão federal, entendendo o processo, se mantém em luta pelo estado democrático e pelo partido que criaram e ajudaram a crescer.

Também não imaginem que sou ingênua e que acredito que há partidos sem integrantes corruptos. Mas, se a corrupção no PT fosse sistêmica como querem nos fazer crer desde 2005,  com todo empenho de Lula,  o processo de impedimento estaria morto, soterrado sob negociatas. Mas o que assistimos e ainda estamos assistindo, prova exatamente o contrário.

 

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ELE QUEBROU MINHAS LENTES COLORIDAS

ago 9, 2015 por

IMG_8166.1Cresci no regime militar. Vivi a adolescência e a juventude numa ditadura. Não fui vítima direta, não esbarrei na opressão, não sofri as consequências imediatas do desvio do caminho. O regime pareceu não nos atingir, exceto quando o bom homem, prefeito da cidadezinha onde nasci, deixou o cargo e a família e fugiu para não ser preso. Ele era comunista e com o golpe os comunistas perdiam a condição de pessoas e se transmutaram em inimigos da pátria.
Semelhante a uma de forasteira desatenta transitei protegida pela feiura que atingia o país. Em 1970 segui os adultos do entorno e vibrei com a conquista do tetra. Vi os jogos, comemorei as vitórias e desfilei pelas ruas, tomada pelo sentimento de bem estar que o título oferecia.
Na época, por escolha de minha mãe, estudava em um colégio da rede Marista e lá aprendi o que a neutra ciência tem a oferecer. Atualmente diriam que era uma educação não ideologizada e algumas décadas atrás, talvez concordasse. Hoje, não mais. Sei que há uma ideologia impregnada nos conteúdos de versão única – a do vencedor ou do dominador, como me parece mais correto qualificar.
Tinha pouco mais de 18 anos quando o mundo das fórmulas neutras sofreu a primeira rachadura. Estava em Campo Grande, atual capital do Mato Grosso do Sul, hospedada com uma família que alugava dois dos quartos da casa. Aguardava o vestibular e no intervalo dos estudos exercia o direito inalienável de quem ainda está com um pé na adolescência: experimentar, ser inconsequente e incoerente, fazer coisas estúpidas e aprender com os erros.
Lá vivia um homem, funcionário público, respeitoso e reservado. Ele era psicólogo e eu, vestibulanda de psicologia. A coincidência nos permitia algumas conversas cordiais, mas não tinha lucidez suficiente para aproveitar a oportunidade e aprender com a simples troca de experiências.
Não lembro o nome do homem; não saberia calcular sua idade e se perguntei qualquer coisa sobre sua vida, ficou no esquecimento. Resgato uma situação, um único fato que veio à tona após assistir uma série de vídeos de entrevistas com adolescentes que foram ao ato de 15 de março  de 2015.
Não sei exatamente de que falávamos ou por que falávamos, mas lembro de meu arroubo de arrogância ou necessidade de afirmação que me fez declarar, com o mais completo desconhecimento de causa, que o governo militar era bom para o Brasil.
Antes que concluísse, a voz contundente e irada do homem, até então pacato e gentil, interrompeu : nunca fale daquilo você não sabe!
Percebo que, com o tempo, o ambiente onde estávamos virou esboço, mas as palavras do homem, não. Estão marcadas com tamanha clareza que quarenta anos parecem dias. Mesmo assim afirmo que não foi sua a fala que causou maior impacto. Trago, nítida e forte, a reação indignada . Sua energia e suas emoções me atingiram e invadiram. Um misto de dor desesperada e silenciosa, para a qual era preciso recrutar força e superação diárias. Dor, indignação, raiva e a obrigatoriedade de calar para sobreviver não foram, de imediato, assimilados por mim. Mas o baque das emoções quebrou meus escudos e abriu uma fresta. Alagarda constantemente, a ruptura permitiu a empatia e o entendimento que sustentam a solidariedade.
Depois da aprovação no vestibular não voltei a ver o homem, mas o lado obscuro da ditadura continuou a sujar minhas adoradas lentes coloridas. Já não era possível transitar incólume pelo mundo.
No ano seguinte Dom Evaristo Arns, Plínio Marcos e um jornalista de Brasília trouxeram retratos crús do país que eu acreditava ser uma pátria acolhedora e de infinitas oportunidades.
No inicio dos anos 80 nada restou de minhas lentes. A morte de uma pessoa querida, que após sair da prisão carregava consigo o pânico pelas torturas sofridas me obrigou, definitivamente, a conviver com o lado sombrio de meu país. Muitas vezes perdi a fé e a esperança. Tantas outras as reconstruí.
Quase quarenta anos depois de tropeçar pela primeira vez na realidade, vendo adolescentes pedindo intervenção militar, não os julguei. Lembrando de meu próprio universo de adolescente, de minha antiga necessidade de afirmação. Exercem seu inalienável direito de cometer ações equivocadas e aprender com elas. Mas não posso deixar de me indignar com aqueles que, com conhecimento de causa e excesso de recursos, abusam inescrupulosamente dessas necessidades, as usando para causar danos a todos nós. Muitos são mais que coniventes com a tortura e a morte de pessoas que lutavam, movidos pelo sonho de um país mais justo. Digo que são mais que coniventes, porque entendo que são cúmplices. Sabem o que fazem, conhecem as consequências, mas não reconhecem o outro como pessoa de igual direito. Manipulam, recrutam, levam milhares aos atos que beiram shows de estrelas ou carnaval fora de época. E, ao mesmo tempo, apoiam, sem escrúpulos, o envio dos mesmos adolescentes aos presídios de intolerável violência. Presídios que,  provavelmente, estão nas listas das futura privatizações.

Depois de ver os inúmeros vídeos de depoimentos, colhidos nas manifestações induzidas, desejei rever o homem que não me poupou da verdade. Gostaria de conhecer sua história e agradecer.

 

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TIVE UM AMIGO FILIADO A ARENA

out 22, 2014 por

mao1Tive um amigo que era filiado a antiga ARENA. Era (ou é) uma ótima pessoa. Eu não conseguia entender aquela filiação, mas minha ignorância nunca chegou a interferir na nossa convivência. Com o tempo entendi que a imensa distância entre a pessoa e o regime não podia ser percebida pela primeira e aceitei o fato.

Isto aconteceu entre os anos de 1978 e 1982. Um período em que o ABC paulista fervia. Frente a minha posição favorável ao movimento, o amigo arenista me taxava de russista, lulista e comunista. Eu contra argumentava. Esclarecia que era a favor dos direitos de trabalhadores que deixavam grande parte de suas vidas nas fabricas para que suas famílias pudessem morar, comer, vestir, ir ao médico. Natural que as pessoas que criavam riquezas transformando matérias primas em produtos, usufruíssem dos lucros. Nada mais justo que essa parcela fosse suficiente para uma vida digna, com boa moradia, carro, escola para filhos, tratamento de saúde e lazer. Eu argumentava, mas nossos universos não convergiam e o amigo nunca mudou os rótulos com os quais me definia. Repetidas vezes perguntou se preferiria viver nos Estados Unidos ou na União Soviética. Repetidas vezes respondi que preferia o meio do caminho. Hoje talvez respondesse que prefiro Cuba ou Bolivia, não por questões relacionadas aos regimes políticos ou desenvolvimento tecnológico, mas pelos aspectos humanos. Ele nunca entendeu a lógica de meus pontos de vista e creio que hoje também não entenderia.

Embora a maioria das pessoas do meu convívio direto – professores, profissionais da cultura e de outras áreas de humanas – sejam de esquerda, muitos conhecidos são claramente da direita brasileira. Sei, inclusive, de boas pessoas ligadas as bases do PSDB. Confesso que assim como em 1980 enxergo uma imensa distancia entre o jeito de ser dessas pessoas e as práticas deste partido, principalmente dos políticos que estão há muito tempo no poder.

De posse de algum conhecimento relativo a interferência da mídia na construção dos valores e vendo televisões ligadas nos cantos mais remotos do país, encontro explicação para o fato. Não há, nas transmissões destes veículos uma segunda versão, um segundo ponto de vista. Não há sequer uma fresta por onde olhar um pouco mais à frente.

Entendo que o ponto de vista único e unilateral da mídia, tão incansavelmente repetido, está tão arraigado, que concepções relacionadas a direita e a esquerda (se é que a classificação ainda tem validade), tanto quanto outros estereótipos beiram a mitificação e só pode ser quebradas pela práxis, pela reflexão e crítica.

O poder da mídia instalada no Brasil (me recuso terminantemente a chamar esses veículos de brasileiros, pois detonam o pais sem piedade) está calcada na falsa premissa da imparcialidade e da propagação da verdade. Poder que  cresce e perpetua as custas da nossa subserviência, da nossa passividade, do tempo de vida que gastamos na frente dos aparelhinhos cheio de pontos luminosos. Poder de grupos que usam esse contingente humano em detrimento do próprio, para beneficiar a si e àqueles com mantém negócios.

Usando as premissas da imparcialidade e de detentora da verdade, abusando da repetição e da mistura de conteúdos ficcionais com a realidade, impregnam em qualquer outro ponto de vista que possa ser expresso a qualidade de invencionice e inverdade.

Neste contexto, quem vê o mundo com olhos próprios tem a voz sufocada, impedida de ecoar por mãos inescrupulosas a tapar-lhes a boca.

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PARA SEGUIR ACREDITANDO NA VIDA

out 15, 2014 por

 

Apresentação de trabalho na 1ª mostra Nacional de Praticas em Psicologia Social - em 2000- trabalho incluía os padrões de comunicação da TV.

Apresentação de trabalho na 1ª mostra Nacional de Praticas em Psicologia Social – em 2000- trabalho incluía os padrões de comunicação da TV.

Destrinchar os padrões de comunição da midia, em particular da televisão já fez parte do meu trabalho junto a educadores. Confesso arrependimento pelo abandono.

Era um trabalho pequeno e solitário. Mas hoje é exatamente o conhecimento que falta ao país.

Alguns anos atrás desliguei a TV.

Não tenho boas defesas para algumas coisas e a medida que a idade avança, a falta de defesa aumenta. Sou invadida pelas dores dos outros, energias dos outros e violência me indigna.

 A televisão é particularmente torturante, seja porque nos denigre como pessoas, em particular à mulher, especialmente nas novelas da Globo, ou porque nos impõe padrões de conduta e crenças pela repetição incessante. Os personagens malévolos que não descansam senão com a morte começam a ser mostrados a tarde e continuam noite a dentro. A ideologia dos programas pode ser resumido ao seguinte: desista, nada pode ser mudado, exceto se você cair nas graças do(a) herdeiro(a) de milionários ou do próprio milionário, ou milionária. Ninguém cresce, muda, constrói a própria ascensão social e isto, para o expectador que só quer relaxar depois de um dia pesado, é destrutivo.

 O mesmo principio provoca a entrada de muito dinheiro, pois os anunciantes pagam para que expectadoreu vejam seus produtos, muitas vezes  usados pelo(a) personagem bem amado(a) ou desejado(a).

 Mas a pior parte é que a própria instituição “televisão” age de maneira tão manipulativa quanto seus perversos personagens. Faz isso de diversas formas: misturando níveis de conteúdos – ficcional e real, por exemplo – o que já é, em si, esquizofrenizante; retirando elementos de um contexto e o apresentando como uma totalidade ou reconotando e revalorizando certos elementos. Tudo isso perversamente mostrado sob a tarja de “veículo de informação” dotado de neutralidade.

 Parece um quadro negro. Mas é pior que isso. Esses veículos formam uma rede de retroalimentação com revistas e jornais. Na maior rede, na mais visível, identificamos claramente a revista Veja, o jornal Folha, o Globo, revista Época e a rede Globo, incluindo canais pagos.

A repetição incessante deixam as lentes com que olhamos o mundo viciadas. Assim esse grupo que está infiltrado em todos os cantos do país tem um poder avassalador. Nem os monarcas do absolutismo tinham poder igual.

Com a televisão desconectada não acompanhei a chuva de denúncias cuidadosamente articulada para atingir o país no segundo turno. Mas fiquei chocada com a reação de pessoas com quem convivo e decidi ver todos os vídeos dispostos na internet a respeito da tal delação premiada. Queria saber se havia nela algo que desabonasse meu voto. Fiquei ainda mais chocada ao ver que o depoimento mostra nada a mais que velha corrupção infiltrada nos diferentes setores da sociedade e da economia do Brasil.

O delator, também réu confesso, retrata o Cartel da Empreiteiras e o recebimento de vantagens financeiras por ele e por políticos de diversos partidos. São crimes financeiros. Devem ser investigados e os culpados devem ser punidos. Mas o politico citado frequentemente, a quem o réu atribui a articulação do esquema de recebimento de propina, morreu em 2012 e sequer pode se pronunciar. Trata-se de José Janene, ruralista, do PP daqui do Paraná, No meio do depoimento, em algumas falas o réu diz que uma parte dos recebimentos iam para o Partido dos Trabalhadores e sugere nomes, com os quais ele próprio deixa claro, não teve nenhuma conversa a respeito. Reafirmo, é crime, deve ser investigado e se comprovado, punido. Mas a mídia pune por antecipação e isso tem sido regra e isto não é justiça. É linchamento.

Ao mesmo tempo o delator afirma com segurança que o setor que faz os orçamentos iniciais, antes que ocorram as licitações, não deixa que ocorram vazamentos. Quando a vencedora da licitação apresenta valores que ultrapassarem em mais de 20% dos orçados e não há negocia para adequar, a licitação é anulada e reiniciada. Quem faz os orçamentos não faz parte da corrupção, o que leva a conclusão que não há super faturamento de obras. A propina é adicional dado pelas empresas do cartel.

Dito isso resta questionar: por que os telespectadores não estão indignados com o monstruoso desvio de dinheiro do metro de São Paulo, gerido pelo PSDB? Será que ele não existe de fato ou denuncia-lo não é de interesse do conglomerado da grande mídia?

 Por que não ficam indignados com o montante roubado na venda do Banestado? Por que a venda, a preço ínfimo, da Vale do Rio Doce, que geraria imensos recursos ao país, não provocou indignação semelhante? Afinal nós pagamos a construção da Vale, assim como pagamos a construção de nossas antigas companhias telefônicas.

 Depois de ver os vídeos do depoimento vi outro: https://www.youtube.com/watch?v=wwZ0Lvtt8A4

 A apreensão de pasta de cocaína completamente documentada, com imagens do flagrante, entrevista de um dos envolvidos reafirmando a veracidade do fato, entre outras coisas. Soma-se ao fato mais que comprovado, outro, incontestável: a construção de aeroporto em terras do tio do então governador de Minas Gerais.

 Chegamos ao ponto mais grave. Com tantas provas incontestáveis a justiça nega-se a investigar e tudo é devolvido àqueles que deveriam estar encarcerados. Enquanto isso o amigo do dono do helicóptero concorre a presidência do pais.

 O que, afinal, acontece com o judiciário brasileiro? A que podemos recorrer?

 Enquanto isso discute-se a redução da idade penal. Para que? Para que crianças cada vez mais novas sejam aliciadas? É este o país que queremos?

 Mas a Globo não noticiou, a Veja não encheu suas páginas com as fotos dos flagrantes, a Folha não publicou um editoral a respeito, então podemos seguir indignados com vendas nos olhos até que um dos nossos caiam na rede.

Prefiro continuar falando o que vejo. Prefiro crer que é possível  sair deste cerco. Prefiro crer que é possível viver no Brasil!

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