Lá vem Maria

Não peço desculpa nem perdão

out 2, 2018 por

Hoje estou triste e não vou desculpar-me por entristecer.

Vejo as facetas assustadoras do meu país e a asfixia toma a garganta e o peito.

Estou triste e não vou pedir licença para gritar a dor.

É dor justa e justificada.

É dor de quem lê postagens e não reconhece pessoas com quem convive ou que viu crescer.

Dor de quem não reconhece, mas que tem que admitir que as emoções destiladas são emoções humanas, reais, ainda que soturnas.

Estou triste e essa é a tristeza de quem sabe que por hora, perdemos a pátria.

Por hora, estamos num país que prega a violência e exerce a violência.

Por hora, uma parcela da sociedade briga para manter a violência daqueles que retiram direitos, bens, dignidade e o lugar de viver.

Por hora estou triste ao ver pessoas próximas, que imaginando arrancar do outro, sequer percebem que arrancam também de si e dos seus.

Por hora, somos isso, porque amanhã não sabemos como será.

Talvez sejamos o que querem – um novo palco de guerra, com crianças entrincheiradas e apavoradas, morrendo nos colos de mães e pais, durante uma fuga.

Neste caso, uma guerra em que o petróleo e a tecnologia, que por direito nos pertence, serão usados contra nós. Petróleo do Pré Sal e tecnologia da Embraer, que o golpe entregou e continua a entregar.

Petróleo e tecnologia e depois, certamente a água e o território.

Bens repassados com apoio daqueles que também teriam ganhos com uma nação soberana e mais justa.

Por hora estou triste e é uma tristeza que sangra.

É dor de corte de lâmina afiada de quem descobre um país com facetas piores que aquele que, em 1976, viu desvelado por Dom Evaristo Arns e Plínio Marcos.

É dor de lâmina afiada de quem não pode imaginar seres amorfos e distantes, a apoiar essa derrocada, porque entre eles, estão os próximos.

Talvez não consigam que sejamos o que querem – um novo palco de guerra.

É possível que lutando, possamos ser uma nação, melhor que aquela que já fomos.

Ficarão as feridas e depois, as cicatrizes, e teremos que lidar com o ódio, cuidadosamente alimentado pela mídia, com instrumentalização do judiciário.

Hoje estou triste e essa é  tristeza que explode para além do estranhamento, do espanto e da indignação.

Estou triste e desabafo sem pedir permissão ou desculpa.

Desabafo sem importar-me com o mico ou o rótulo de pieguice.

É desabafo legítimo de quem, há nos e anos, reconhece as táticas e estratégia empregados pelo judiciário e pela mídia na destruição do nosso lugar de viver.

Na garganta, uma mão invisível a sufocar.

No peito, a dor de corte de lâmina afiada.

Mas enquanto estiver viva, por mim, por aqueles que amo ou pelas crianças que desconheço, não desisto de meu lugar de viver.

Estou triste e desabafo para poder seguir lutando.

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O Crônicas segue, apoiando a Resistência.

ago 17, 2016 por

 

lançamento do Crônicas da Resistência em Curitiba

lançamento do Crônicas da Resistência em Curitiba

Hoje, 17 de agosto de 2006, mais um exemplar do livro “Crônicas da Resistência – Narrativas de uma democracia ameaçada” partiu. Seguiu rumo a capital de outro estado brasileiro. Uma pessoa jovem presenteou outra, também jovem.
Poderia imaginar que nossas narrativas teriam grande impacto na vida da pessoa presenteada ou do presenteador, mas não é assim que sinto. A verdade é que o fato trouxe uma alegria orgulhosa. A pequena crônica, que condensa anos do olhar que lanço aos fatos, será lida por quem chegou ao mundo uns trinta anos depois de minha aterrizagem. Mas em minutos de conversa, três décadas que poderiam ser um abismo, transmutaram em tempos de aproximação e entendimento.
Encaramos os fatos com focos semelhantes. Entendemos os fatos com profundidade e amplitude similares.
A experiencia provocou uma viagem no tempo e lá estou, com idade próxima a da pessoa que presenteou e da que foi presenteada. Resgato o longo caminho de aprendizagens. E, na ponta de cá, entendo o mundo com critérios próximos aos daqueles que só caminharam metade do caminho que já fiz.
Retomo também as conversas com outros autores do livro, no ato do lançamento de Crônicas da Resistência. Nas narrativas estão desde olhares de pessoas com idade próxima a minha, quanto a deles. Muitos com atuações admiráveis. Muitos anônimos e, assustadoramente, lúcidos.
Enfim, a experiencia de hoje soma-se a outras e prova que o mundo é diverso e complexo. Essa realidade estanque e dicotomizada que nos vendem todos os dias interessa ao golpe e aos golpistas.
Essas pessoas de pouca idade, admiradores dos regimes ditatoriais que tomam as mídias não são maioria. A população do Brasil, assim como o mundo, é complexa, heterogênea nos mais diversos aspectos, incluindo o humanitário. A consciência segue curso não linear, mas a propaganda não dá destaque àqueles que estão do outro lado, que não pactuam dos interesses de quem dá a vida valor menor que o capital.
Ao final da reflexão, concluo que Crônicas da Resistência pode fazer diferença na vida de quem presenteou e de quem foi presenteado. As narrativas dirão a eles que há respaldo para seus pensamentos, suas análises, suas críticas e seus entendimentos. Pode ser alento para que sigam diferenciados. Para que não se vejam sozinhos em meio a essa versão sem luz nem esperança que querem nos impor.

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Duas horas com o Cultura Resiste/PR

jul 12, 2016 por

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A Vida pede. Viva mais Cultura.”
(da página da Caixa Cultural de Curitiba, no Facebook)

Não estive muito tempo com o grupo  que, na sexta feira, 08 de julho de 2016, ocupou o espaço da Caixa Cultural de Curitiba. Foram apenas duas horas. Tempo que eles levaram para se reunir e organizar a ocupação relâmpago no espaço de entrada do prédio. Tempo suficiente para compreender seus objetivos e causas.
Sem dúvida, todos, assim como a grande maioria dos brasileiros, querem o fim deste período de exceção e a retomada do mandato da presidente eleita. Mas o foco do debate que aconteceu no inicio das atividades pode ser sintetizado em uma frase: os recursos da união são drenados de todos os setores que fazem parte da área de humanas para engordar bancos e banqueiros.
IMG_8649Não é difícil de entender o argumento. De um lado já temos a maior parte dos recursos da união comprometidos com juros e a amortização da divida pública. Uma auditoria poderia reverter o quadro, ainda que parcialmente. Mas, contrariando o bom senso, as taxas que antes foram forçadas para baixo, agora crescem. E a divida também. Do outro lado, os recursos para Cultura, Ação Social, Moradia, Educação e Saúde somem.
A Caixa Econômica Federal é o banco público responsável pelo transito dos recursos das áreas de humanas. A agência da Caixa da Rua Conselheiro Laurindo aloja espaços culturais como o teatro e espaço para exposições. Por isso a escolheram.
Estamos acostumados com a vinheta “vem pra Caixa você também”, mas, neste final de semana,os integrantes do Cultura Resiste nos alertou: enquanto o golpe for mantido, seremos todos excluídos, não só da Caixa,  mas de todos os bens sociais que ajudamos a construir.

Este é um dos pilares do golpe. Junta-se a ele o desmantelamento das estatais, a entrega de nossos recursos, iniciando pelo Pré-Sal. E não podemos descartar o alastramento de domínio que as bases americanas instaladas no continente representam.

Precisamos todos, de todas as áreas, dizer não ao golpe para que possamos ter uma nação que nos abrigue.

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Indicamos uma postagem antiga de Auditoria Cidadã da Divida. Embora escrito antes da queda dos juros, ajudará a entender o alerta do Cultura Resiste.

A lógica perversa da Dívida e o Orçamento de 2015

 

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