Não peço desculpa nem perdão
Hoje estou triste e não vou desculpar-me por entristecer.
Vejo as facetas assustadoras do meu país e a asfixia toma a garganta e o peito.
Estou triste e não vou pedir licença para gritar a dor.
É dor justa e justificada.
É dor de quem lê postagens e não reconhece pessoas com quem convive ou que viu crescer.
Dor de quem não reconhece, mas que tem que admitir que as emoções destiladas são emoções humanas, reais, ainda que soturnas.
Estou triste e essa é a tristeza de quem sabe que por hora, perdemos a pátria.
Por hora, estamos num país que prega a violência e exerce a violência.
Por hora, uma parcela da sociedade briga para manter a violência daqueles que retiram direitos, bens, dignidade e o lugar de viver.
Por hora estou triste ao ver pessoas próximas, que imaginando arrancar do outro, sequer percebem que arrancam também de si e dos seus.
Por hora, somos isso, porque amanhã não sabemos como será.
Talvez sejamos o que querem – um novo palco de guerra, com crianças entrincheiradas e apavoradas, morrendo nos colos de mães e pais, durante uma fuga.
Neste caso, uma guerra em que o petróleo e a tecnologia, que por direito nos pertence, serão usados contra nós. Petróleo do Pré Sal e tecnologia da Embraer, que o golpe entregou e continua a entregar.
Petróleo e tecnologia e depois, certamente a água e o território.
Bens repassados com apoio daqueles que também teriam ganhos com uma nação soberana e mais justa.
Por hora estou triste e é uma tristeza que sangra.
É dor de corte de lâmina afiada de quem descobre um país com facetas piores que aquele que, em 1976, viu desvelado por Dom Evaristo Arns e Plínio Marcos.
É dor de lâmina afiada de quem não pode imaginar seres amorfos e distantes, a apoiar essa derrocada, porque entre eles, estão os próximos.
Talvez não consigam que sejamos o que querem – um novo palco de guerra.
É possível que lutando, possamos ser uma nação, melhor que aquela que já fomos.
Ficarão as feridas e depois, as cicatrizes, e teremos que lidar com o ódio, cuidadosamente alimentado pela mídia, com instrumentalização do judiciário.
Hoje estou triste e essa é tristeza que explode para além do estranhamento, do espanto e da indignação.
Estou triste e desabafo sem pedir permissão ou desculpa.
Desabafo sem importar-me com o mico ou o rótulo de pieguice.
É desabafo legítimo de quem, há nos e anos, reconhece as táticas e estratégia empregados pelo judiciário e pela mídia na destruição do nosso lugar de viver.
Na garganta, uma mão invisível a sufocar.
No peito, a dor de corte de lâmina afiada.
Mas enquanto estiver viva, por mim, por aqueles que amo ou pelas crianças que desconheço, não desisto de meu lugar de viver.
Estou triste e desabafo para poder seguir lutando.
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