Lá vem Maria

TIVE UM AMIGO FILIADO A ARENA

out 22, 2014 por

mao1Tive um amigo que era filiado a antiga ARENA. Era (ou é) uma ótima pessoa. Eu não conseguia entender aquela filiação, mas minha ignorância nunca chegou a interferir na nossa convivência. Com o tempo entendi que a imensa distância entre a pessoa e o regime não podia ser percebida pela primeira e aceitei o fato.

Isto aconteceu entre os anos de 1978 e 1982. Um período em que o ABC paulista fervia. Frente a minha posição favorável ao movimento, o amigo arenista me taxava de russista, lulista e comunista. Eu contra argumentava. Esclarecia que era a favor dos direitos de trabalhadores que deixavam grande parte de suas vidas nas fabricas para que suas famílias pudessem morar, comer, vestir, ir ao médico. Natural que as pessoas que criavam riquezas transformando matérias primas em produtos, usufruíssem dos lucros. Nada mais justo que essa parcela fosse suficiente para uma vida digna, com boa moradia, carro, escola para filhos, tratamento de saúde e lazer. Eu argumentava, mas nossos universos não convergiam e o amigo nunca mudou os rótulos com os quais me definia. Repetidas vezes perguntou se preferiria viver nos Estados Unidos ou na União Soviética. Repetidas vezes respondi que preferia o meio do caminho. Hoje talvez respondesse que prefiro Cuba ou Bolivia, não por questões relacionadas aos regimes políticos ou desenvolvimento tecnológico, mas pelos aspectos humanos. Ele nunca entendeu a lógica de meus pontos de vista e creio que hoje também não entenderia.

Embora a maioria das pessoas do meu convívio direto – professores, profissionais da cultura e de outras áreas de humanas – sejam de esquerda, muitos conhecidos são claramente da direita brasileira. Sei, inclusive, de boas pessoas ligadas as bases do PSDB. Confesso que assim como em 1980 enxergo uma imensa distancia entre o jeito de ser dessas pessoas e as práticas deste partido, principalmente dos políticos que estão há muito tempo no poder.

De posse de algum conhecimento relativo a interferência da mídia na construção dos valores e vendo televisões ligadas nos cantos mais remotos do país, encontro explicação para o fato. Não há, nas transmissões destes veículos uma segunda versão, um segundo ponto de vista. Não há sequer uma fresta por onde olhar um pouco mais à frente.

Entendo que o ponto de vista único e unilateral da mídia, tão incansavelmente repetido, está tão arraigado, que concepções relacionadas a direita e a esquerda (se é que a classificação ainda tem validade), tanto quanto outros estereótipos beiram a mitificação e só pode ser quebradas pela práxis, pela reflexão e crítica.

O poder da mídia instalada no Brasil (me recuso terminantemente a chamar esses veículos de brasileiros, pois detonam o pais sem piedade) está calcada na falsa premissa da imparcialidade e da propagação da verdade. Poder que  cresce e perpetua as custas da nossa subserviência, da nossa passividade, do tempo de vida que gastamos na frente dos aparelhinhos cheio de pontos luminosos. Poder de grupos que usam esse contingente humano em detrimento do próprio, para beneficiar a si e àqueles com mantém negócios.

Usando as premissas da imparcialidade e de detentora da verdade, abusando da repetição e da mistura de conteúdos ficcionais com a realidade, impregnam em qualquer outro ponto de vista que possa ser expresso a qualidade de invencionice e inverdade.

Neste contexto, quem vê o mundo com olhos próprios tem a voz sufocada, impedida de ecoar por mãos inescrupulosas a tapar-lhes a boca.

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PARA SEGUIR ACREDITANDO NA VIDA

out 15, 2014 por

 

Apresentação de trabalho na 1ª mostra Nacional de Praticas em Psicologia Social - em 2000- trabalho incluía os padrões de comunicação da TV.

Apresentação de trabalho na 1ª mostra Nacional de Praticas em Psicologia Social – em 2000- trabalho incluía os padrões de comunicação da TV.

Destrinchar os padrões de comunição da midia, em particular da televisão já fez parte do meu trabalho junto a educadores. Confesso arrependimento pelo abandono.

Era um trabalho pequeno e solitário. Mas hoje é exatamente o conhecimento que falta ao país.

Alguns anos atrás desliguei a TV.

Não tenho boas defesas para algumas coisas e a medida que a idade avança, a falta de defesa aumenta. Sou invadida pelas dores dos outros, energias dos outros e violência me indigna.

 A televisão é particularmente torturante, seja porque nos denigre como pessoas, em particular à mulher, especialmente nas novelas da Globo, ou porque nos impõe padrões de conduta e crenças pela repetição incessante. Os personagens malévolos que não descansam senão com a morte começam a ser mostrados a tarde e continuam noite a dentro. A ideologia dos programas pode ser resumido ao seguinte: desista, nada pode ser mudado, exceto se você cair nas graças do(a) herdeiro(a) de milionários ou do próprio milionário, ou milionária. Ninguém cresce, muda, constrói a própria ascensão social e isto, para o expectador que só quer relaxar depois de um dia pesado, é destrutivo.

 O mesmo principio provoca a entrada de muito dinheiro, pois os anunciantes pagam para que expectadoreu vejam seus produtos, muitas vezes  usados pelo(a) personagem bem amado(a) ou desejado(a).

 Mas a pior parte é que a própria instituição “televisão” age de maneira tão manipulativa quanto seus perversos personagens. Faz isso de diversas formas: misturando níveis de conteúdos – ficcional e real, por exemplo – o que já é, em si, esquizofrenizante; retirando elementos de um contexto e o apresentando como uma totalidade ou reconotando e revalorizando certos elementos. Tudo isso perversamente mostrado sob a tarja de “veículo de informação” dotado de neutralidade.

 Parece um quadro negro. Mas é pior que isso. Esses veículos formam uma rede de retroalimentação com revistas e jornais. Na maior rede, na mais visível, identificamos claramente a revista Veja, o jornal Folha, o Globo, revista Época e a rede Globo, incluindo canais pagos.

A repetição incessante deixam as lentes com que olhamos o mundo viciadas. Assim esse grupo que está infiltrado em todos os cantos do país tem um poder avassalador. Nem os monarcas do absolutismo tinham poder igual.

Com a televisão desconectada não acompanhei a chuva de denúncias cuidadosamente articulada para atingir o país no segundo turno. Mas fiquei chocada com a reação de pessoas com quem convivo e decidi ver todos os vídeos dispostos na internet a respeito da tal delação premiada. Queria saber se havia nela algo que desabonasse meu voto. Fiquei ainda mais chocada ao ver que o depoimento mostra nada a mais que velha corrupção infiltrada nos diferentes setores da sociedade e da economia do Brasil.

O delator, também réu confesso, retrata o Cartel da Empreiteiras e o recebimento de vantagens financeiras por ele e por políticos de diversos partidos. São crimes financeiros. Devem ser investigados e os culpados devem ser punidos. Mas o politico citado frequentemente, a quem o réu atribui a articulação do esquema de recebimento de propina, morreu em 2012 e sequer pode se pronunciar. Trata-se de José Janene, ruralista, do PP daqui do Paraná, No meio do depoimento, em algumas falas o réu diz que uma parte dos recebimentos iam para o Partido dos Trabalhadores e sugere nomes, com os quais ele próprio deixa claro, não teve nenhuma conversa a respeito. Reafirmo, é crime, deve ser investigado e se comprovado, punido. Mas a mídia pune por antecipação e isso tem sido regra e isto não é justiça. É linchamento.

Ao mesmo tempo o delator afirma com segurança que o setor que faz os orçamentos iniciais, antes que ocorram as licitações, não deixa que ocorram vazamentos. Quando a vencedora da licitação apresenta valores que ultrapassarem em mais de 20% dos orçados e não há negocia para adequar, a licitação é anulada e reiniciada. Quem faz os orçamentos não faz parte da corrupção, o que leva a conclusão que não há super faturamento de obras. A propina é adicional dado pelas empresas do cartel.

Dito isso resta questionar: por que os telespectadores não estão indignados com o monstruoso desvio de dinheiro do metro de São Paulo, gerido pelo PSDB? Será que ele não existe de fato ou denuncia-lo não é de interesse do conglomerado da grande mídia?

 Por que não ficam indignados com o montante roubado na venda do Banestado? Por que a venda, a preço ínfimo, da Vale do Rio Doce, que geraria imensos recursos ao país, não provocou indignação semelhante? Afinal nós pagamos a construção da Vale, assim como pagamos a construção de nossas antigas companhias telefônicas.

 Depois de ver os vídeos do depoimento vi outro: https://www.youtube.com/watch?v=wwZ0Lvtt8A4

 A apreensão de pasta de cocaína completamente documentada, com imagens do flagrante, entrevista de um dos envolvidos reafirmando a veracidade do fato, entre outras coisas. Soma-se ao fato mais que comprovado, outro, incontestável: a construção de aeroporto em terras do tio do então governador de Minas Gerais.

 Chegamos ao ponto mais grave. Com tantas provas incontestáveis a justiça nega-se a investigar e tudo é devolvido àqueles que deveriam estar encarcerados. Enquanto isso o amigo do dono do helicóptero concorre a presidência do pais.

 O que, afinal, acontece com o judiciário brasileiro? A que podemos recorrer?

 Enquanto isso discute-se a redução da idade penal. Para que? Para que crianças cada vez mais novas sejam aliciadas? É este o país que queremos?

 Mas a Globo não noticiou, a Veja não encheu suas páginas com as fotos dos flagrantes, a Folha não publicou um editoral a respeito, então podemos seguir indignados com vendas nos olhos até que um dos nossos caiam na rede.

Prefiro continuar falando o que vejo. Prefiro crer que é possível  sair deste cerco. Prefiro crer que é possível viver no Brasil!

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Arte de barro

maio 29, 2014 por

vaso cerâmico e orquidea

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peças em cerâmica com plantas de um maringaense

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mostruário antigo

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resultaddo de oficina com adolescente

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A Beleza do Singelo em Cordel do Amor Sem Fim

mar 29, 2014 por

Atores em conserva02Atores em conserva

Uma bela história, depois de vivida e acaba, continua bela quando bem contada. Foi assim que experimentei “Cordel do Amor Sem Fim”, peça de teatro de Claudia Barral, apresentada no Festival de Curitiba, 2014. Uma história contada em cena e música, com graça, simplicidade e encantamento.
Os adjetivos valem tanto para o texto, quanto para a montagem e a atuação de atores e músicos. Atores e músicos jovens, de um grupo criado em 2013 que fazem do enredo calcado na cultura popular brasileira, uma história que emociona pelo jeito de contar. A luz, feita com a mesma sutileza, ajuda a dar vida ao cenário e ao figurino, que transbordam criatividade. Cia. Atores em Conserva, da interiorana Tatui, prova que a singeleza, nas mãos de quem ama a arte é definitivamente bela.

Fotos de Erly Ricci

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TENHO QUE?

mar 14, 2014 por

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Tenho que tanta coisa e tanta coisa que tenho que não faz sentido algum.
Tenho que eliminar o “mato” do quintal, mas em dia de sol, abelhas, borboletas e besouros beijam flores enquanto pássaros beliscam sementes.
Tenho que tanta coisa e tanta coisa que tenho que, torna a vida estéril.
Tenho que tanta coisa, mas num canto improvisado hortelã e bromelias rescuezadas convivem em harmonia.
Tenho que tanta coisa, mas em algum canto improvisado ainda posso inventar tantos jeitos de viver.

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