Lá vem Maria

Todos os filhos do mundo

dez 13, 2016 por

 

CIA, Narcotráfico, grande  imprensa, golpes e cinema e a destruição das nações, incluindo a nossa.O cinema pode ser mais fiel que os livros de história.

“Missing (br: Missing – Desaparecido, um grande mistério / pt: Desaparecido) é um filme estadunidense de 1982, do gênero drama, dirigido por Costa-Gavras. O roteiro é baseado no livro The Execution of Charles Horman: An American Sacrifice, lançado em 1978 por Thomas Hauser, que conta história verídica de Charles Horman que vivia no Chile na época do golpe de 1973 que depôs o presidente Salvador Allende.
Sobre  o filme ou o fato, encontramos : “(…) Por fim, Ed e Beth descobrem que Charles foi assassinado no Estádio Nacional e enterrado numa parede, uma maneira comum da repressão chilena esconder os corpos dos torturados. Revoltado, Ed tenta inutilmente processar Henry Kissinger, o então Secretário de Estado de seu país.”
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Missing_%28filme%29)

Nos sites que tem o cinema como foco, há diferentes sinopses para o filme Desaparecido, um grande mistério, de Costa-Gravas. Algumas mais instigantes que a descrição da Wikipédia,  escolhida e transcrita acima. Golpe militar, tortura, morte, intervenção dos Estados Unidos nos nossos países são temas saturados, que gostaríamos que sumissem de nossas vidas. Então por que assistir filmes que tratam dos temas?

Fosse objetivo levar o leitor ao filme, melhor seria escrever que Desaparecido mostra a busca incansável e corajosa de Beth, companheira do desaparecido, e de Ed, empresário americano e pai do mesmo. Apelo semelhante seria usado, caso os meios de comunicação tivessem algum interesse na promoção do filme. Mas esse não é um dos sucessos hollywoodianos que vendem os heróis americanos.  Desaparecido encabeça uma pequena lista das piores histórias de nossas vidas que viraram filmes. A lista poderia ser maior, mas para a reflexão pretendida, bastam 3 ou 4 produções.
Depois de Desaparecido outros filmes, com base em fatos reais, denunciam as ações nefastas desencadeadas por aquele país em territórios que não lhes pertencem. Outros holocaustos que não recebem holofotes. Afinal há interesses e muito poder em jogo. E para o poder, a vida é mera retórica.
Estado de Sitio (État de siège), do mesmo diretor, é uma produção franco-teuto-italiano de 1972. Ainda não estávamos no auge das ditaduras que solaparam as Américas do Sul e Central, mas os fatos referendam a narrativa, que delata tanto a participação norte americana na queda dos governos eleitos, como seus métodos. O mundo, incluindo a ONU e todos os outros órgão de defesa dos direitos humanos não prestaram atenção no que Costa-Gravas alardeava. E parece que continuam não prestando atenção, mesmo quando as denuncias são feitas pelos próprios americanos.
O filme Jogo de Poder,  baseado nas memórias da ex agente da CIA, Valerie Plame, mostra as consequências sofridas por ela e por seu marido, o diplomata Joseph Wilson, depois que ele  revelou que o governo norte americano, presidido por Jorge W. Bush, manipulou informações sobre armas nucleares iraquianas para invadir o país, com ajuda da Inglaterra. A história revela, além dos métodos americanos,  intervenção na imprensa ou, talvez, a cooperação velada entre a CIA e a imprensa ou parte dela, que atuou para destruir moralmente o diplomata e a agente.
Mais recente, de 2014, o filme O Mensageiro (Kill the messenger) narra a história do jornalista americano Gary Weeb, que investigou e tornou pública, a associação da CIA com o narcotráfico. A denúncia está focada no período em que o órgão financiava e treinava os grupos que lutavam contra o governo Sandinista, na Nicarágua.  A parceria entre CIA e narcotráfico responde pela disseminação do craque, que antes invadiu os bairros pobres e negros de Los Angeles e que agora faz parte das cenas diárias das nossa ruas. O filme também transita pela associação do órgão com a grande imprensa, que age para destruir a reputação do denunciante.
Além de Gary Weeb, o historiador americano Alfred McCoy  pesquisou as razões que levaram perto de 1/3 dos soldados que americanos que retornaram da guerra do Vietnã, depender da heroína. O resultado da pesquisa (ou investigação), publicada com o título “The Politics of Heroin” mostra a estreita relação da CIA com o tráfico. Outro a denunciar a associação da CIA com o tráfico é Michael Levine, ex agente do DEA que atuou 25  anos no órgão. Levine aparece em entrevistas, vídeos para Youtube e, principalmente,  nos livros Deep Cover e The Big White Lie (em espanhol, La Guerra Falsa). Segundo Levine a parceria ocorre desde a guerra do Vietnan.   Produtores e traficantes de heroína eram aliados de guerra. A parceria com o narcotráfico também estava presente no golpe de 1980, na Bolívia, quando os produtores e traficantes de cocaína foram os donos absolutos do poder. O autor não só sustenta que a imprensa norte americana é parcial como deixa claro que a ação da mesma é fundamental para manter esse tipo de ação. Cabe a ela, além de destruir moralmente qualquer denunciante e apresentar versões parciais, também alimentar a ilusão do combate ao tráfico.
Temos portanto, uma aliança que começa com 3 pilares e que se transforma em uma rede de alianças, com os mais diversos interesses: armas, petróleo, minérios, água, mercado para produtos.
Qual a nossa posição em tudo isso?

Há muitas semelhanças entre os padrões da grande imprensa dos Estados Unidos e a da nossa. Há muitas semelhanças entre o que aconteceu na Bolívia em 1980 e 1981 e o que acontece aqui. Há risco de sermos a nova praça de guerra da CIA. Há riscos  que o país, que já é um dos maiores consumidores de cocaína do mundo e uma das principais rotas do tráfico da América Latina, se torne, definitivamente, uma mega corporação das drogas ilícitas.

Em O Mensageiro, cidadãos do sul de Los Angeles conseguem uma reunião com o diretor da CIA. No encontro falam da destruição da vida de seus filhos e questionam as ações do órgão. Em Desaparecido, o empresário americano e pai da vitima, afirma que processará os responsáveis por deixarem que seu filho, um cidadão americano, fosse torturado e morto. Ele realmente tentou processar o então secretário de estado dos EUA, Henry Kissinger, mas foi derrotado.

Nos dois casos discute-se a segurança dos filhos dos americanos. Mas as ações da poderosa CIA, que circula pelo mundo disfarçada de benfeitora, mata os filhos dos cidadãos de todo o mundo. Não importa quem é, de onde é, filho de quem é. Nada importa, senão o poder.

Golpe, violência, tráfico, perda de direitos, intervenção dos Estados Unidos  são temas saturados, que gostaríamos que desaparecessem de nossas vidas. Mas para que consigamos, o mundo precisa dar um basta as ações CIA, aos meios de comunicação e, consequentemente, diminuir a força do tráfico. Qual banqueiro apoiaria ações como essa e rejeitaria os lucros do valores estratosféricos que os ilícitos proporcionam?

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