Lá vem Maria

A EMISSARIA

out 20, 2011 por

De tempos em tempos ela aprece. Chega de mansinho, em passos miúdos e leves. Pára bem rente ao portão e inicia a seqüência de palmas ritmadas e fracas.
Os cabelos cacheados assemelham aos fios de paina. A pele, essa parece um tênue tecido translúcido e frágil. A vestimenta simples e apropriada ao clima do dia revela o auto cuidado permanente.
Às vezes aceita entrar, outras, prefere manter conversação através da grade. Com a voz entrecortada e  acompanhada dos movimentos das mãos, que lembram imagens em câmara lenta, faz os cumprimentos de praxe. Um pequeno intervalo e encadeia perguntas específicas relativas ao meu estado físico e emocional, puxando itens de conversas antigas. Falamos de minhas plantas exuberantes e de minúsculas obras verdes em pequeninos vasos que ela cultiva. Às vezes menciona um ou outro detalhe de sua vida, ou fala das propriedades de uma alguma erva medicinal que reconhece ao redor. Mas sempre acaba perguntando de meu trabalho, abençoando minhas mãos criativas, me lembrando dos agradecimentos, dos gestos de recepção aos anjos, dos pedidos de proteção à força e consciência universal que nomeia apenas Pai.
De tempos em tempos ela aprece com passos lentos, movimentos de mãos que remetem aos praticantes de tai chi chuan, cabelos em fios de prata, olhos minúsculos e brilhantes, para lembrar que anjos existem e que é hora de aprender a louvar a vida.

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