Lá vem Maria

MARIA, VESTIDA DE PLENITUDE

mar 22, 2012 por

 

Entrou na avenida vestindo a fantasia que não sabia de onde vinha. Não titubeou. Progrediu rodopiando e sambando e cantando, como se da vida restasse apenas um pedaço de noite. Brilhou à luz dos refletores  e reluziu purpurinas até que a bateria cessasse. Caiu em negro vazio ao fim do longo percurso.

Antes de invadir avenida, trancou a porta, deixou a casa e andou à deriva. Andaria ainda, se o bloco dos redentos não a tivesse apanhado.

Antes  de sair sem rumo, abandonou  a cama e o quarto. Permaneceria no seu aconchego, se lá se sentisse aconchegada.

Antes de deixar  o leito não respondeu ao toque do homem, porque antes havia dito de sua solidão e vazio e não queria premio de consolação.

Antes de falar de si, rolou na cama, tomada de desejo.  Latentes, viviam beijos ardentes, caricias desmedidas e livres, risos francos e despudorados.

Antes, haviam outras noites, outros dias, outras esperas.

Depois, acordou num barracão desconhecido, de paredes imprecisas, cobertas de máscaras, disfarces e vestimentas disformes. Despiu-se das fantasias e do havia antes e antes do antes.  Plena de si, saiu,  a reinventar-se.

 

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