Lá vem Maria

Doce Margarida

fev 4, 2017 por

IMG_0806Doce Margarida,

Sigo por ruas silenciosas e vazias, mas não vou só. Insisto em carregar-te ao lado e a ti faço confidencias que a ninguém mais ousaria.

Sei que pensas que sou um  poço de contradições e não nego, tens razão.

Não a quero perto e não a abandono. Faço de ti a amiga invisível sem, contudo, dar-te o desfrute de minha companhia ou a angústia de minhas incoerências. Temo que a possa perder e temo que estejas a esperar por mim.

No escuro do quarto lembro de ti, Margarida, a olhar-me com olhos de mel e a esperar que depois do sexo a envolvesse com carinho. Eu, a abjurar da entrega, fugia para os cantos escuros da alma.

Faz-me falta a tua doçura e o teu encanto. Mas bem sei, Margarida, que não vim ao mundo preparado para o amor. Cultuo o que me destes e sigo, desterrado de mim.

Tens o direito de deixar-me à deriva e então já não existirão laços com o planeta. Minha estrada não é de terra e,  à semelhança de um astronauta desgarrado, vivo sem raízes. De minha nave imaginária espio esse insensato formigueiro humano, do qual nunca consegui ser parte. Quando lançado a ele,  desvio dos carros e multidões e nas ruas vazias, dou-me ao estranhamento.

A vida, amiga, não é senão experimentação. Mergulhos descabidos em versões moldadas pela loucura coletiva e confesso, vim ao mundo desprovido da capacidade de pertencer.

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