Lá vem Maria

Minha Resposta a Silas Malafaia

maio 14, 2016 por

Segundo  uma postagem que entrou na minha página do Facebook, Silas Mafalafia escreveu: ” OS ESQUERDOPATAS ESTÃO CHORANDO PORQUE TEMER ACABOU COM UM DE SEUS ANTROS, NO MINISTERIO DA CULTURA.”

Escrevendo”Esquerdopatas” ele junta esquerda com psicopata. E eu sou de esquerda. Mais de esquerda que o PT.  Mas, conhecedora de psicologia e psicopatologia, afirmo que um psicopata  é  incapaz de empatia, de se colocar no lugar do outro, de considerar ou respeitar as necessidades do outro. Portanto,  o grupo que acaba de apropriar-se da vida de 200 milhões de pessoas e estabelecer um plano de governo que retira direitos,  joga na miséria um imenso contingente de indivíduos de todas as idades, que se posiciona contra o aborto enquanto estabelece politicas que matarão bebes de fome e de falta de atendimento e que alimenta a violência está muito mais próximo do conceito de psicopatia que nós,  de esquerda.

Somos designados ” de esquerda” exatamente por sermos sensíveis ao sofrimento humano e lutarmos por uma nação igualitária. Sofrimento que o grupo ao qual Malafaia pertence irá aumentar abruptamente.
Quanto ao Ministério da Cultura, sim, eu sinto pela extinção e pela saída do admirável sociólogo Juca Ferreira.

Sinto ainda mais, porque sei que farão o impossível para eliminar   os resultados do trabalho que o historiador e escritor Célio Turino desenvolveu: O Programa Cultura Viva.  Um programa do MINC que mudou o paradigma na elaboração de politicas públicas na esfera da Cultura e  viabilizou a criação de milhares de Pontos e Pontões de Cultura, atingindo milhões de pessoas e criando milhares de postos de trabalho.

O programa, iniciado na gestão de Gilberto Gil, teve continuidade com  Juca Ferreira, ambos no governo Lula.
Foi e ainda é o melhor trabalho na área de cultura que já tivemos em todos os tempos. Articulado em rede e fomentando a diversidade, é também o melhor programa contra a exclusão e, consequentemente, contra a violência. .

É indispensável ter informação correta, lucidez e capacidade de empatia (ausente nos psicopatas ) para perceber o valor das ações desencadeadas em propostas dessa ordem. Mas está claro que o grupo que se apoderou do país quer acabar com tudo isso e, também restringir a educação pública, para eliminar qualquer resquício de pensamento crítico da sociedade brasileira. E não duvido que, ao mesmo tempo,  ampliem os domínios dos meios de comunicação que, nos últimos 11 anos, trabalhou de forma antiética e sistemática, para colocá-los no poder.

Por tudo o que vemos, é preciso lembrar que Juca Ferreira, em reunião com os representantes dos pontos de cultura, salientou: “É um erro transferir a dinâmica que vocês representam em seus territórios para o Estado. Se não, em vez de fortalecer, vamos enfraquecer. Vocês são representantes da complexidade cultural que o Brasil é”. 

Juca também salientou  que o  cenário econômico brasileiro e o avanço de movimentos reacionários, ameaçavam “a perenidade da conquista de direitos já adquiridos, inclusive culturais”. Enfatizou ainda a importância da atuação dos “Pontos de Cultura para garantir avanços e contribuir no processo de democratização. “

Além de Juca, Adolfo Pérez Esquivel aponta a importância da diversidade cultural na instrumentalização do processo democrático e alerta para os riscos do que chama de “monocultivo das mentes”.

Estamos experimentando os danos do monocultivo praticado pelos grandes meios de comunicação instalados no Brasil. Vivenciamos a alucinante impossibilidade de contra argumentar, de fazer chegar a uma parcela da população que sofrerá os danos do golpe, informações pertinentes.
Não faço parte de nenhum Ponto de Cultura. Convivo com integrantes e conheço a boa pratica de alguns desses pontos.  Afirmo, sem titubear, que a postura delineada por Juca Ferreira, Celio Turino e Adolfo Perez Esquivel, é aquela que precisamos. A nação ganha quando integrantes dessas unidades  assumem posição similar. Sabemos que é necessário, ainda, promover a autonomia econômica das unidades e ampliar suas ações.

Quando eliminar o livre pensar é a desejo de um governo ilegítimo, fortalecer a diversidade, aumentar o comprometimento com praticas educacionais que permitem o pensamento crítico é o mais eficiente ato revolucionário.

As imagens da galeria são de um dos bons pontos de cultura do Paraná, obtidas quando Erly Ricci e eu,  do trabalho da Associação de Cultura Popular Mandicuera, registrado na página:

http://projetointerfaces-solasol.blogspot.com.br/

Parte do depoimento de Adolfo Pérez Esquivel, que inclui sua visão de” monocultivo das mentes” , está em https://www.youtube.com/watch?v=KmVol94yGQM

 

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Ações de acolhimento em “O Planeta é um só”

maio 3, 2016 por

foto de Erly Ricci

foto de Erly Ricci

Estávamos no meio da tarde quando ele sentou de frente para nós. No meu corpo apareceram  emoções desencontradas. Perplexidade, choque, desamparo, perda e ternura. A visível afetividade do interlocutor permeava as falas conscientes de quem viveu a crueza da guerra. Ele compartilhava suas experiências e eu continuava atônita, bombardeada por sensações de estonteamento,  ruptura e desproteção. Calculo que o narrador tenha a mesma idade de um de meus filhos. Meus filhos, que como milhares de outros da mesma idade, enfrentam as adversidades do nosso tempo e seguem, construindo suas histórias particulares, sem que isso lhes roubem a base familiar. Mas ele afirma que esse não é o seu lugar, que sua família ficou para trás, no lugar origem, para onde já não pode voltar. Ele é um sírio que talvez não tenha completado 30 anos. Não é o único e a Síria não é o único país de origem daqueles que conheci naquela tarde de sábado.
Era noite quando as atividades foram encerradas e deixei o local, impregnada de ternura e rijeza. Segui para casa com a alma a repetir que é preciso insistir, persistir, resistir, lutar. A vivência proíbe que venha a sucumbir.
Continuarei frequentando as reuniões do projeto “O mundo é um só” e confesso que precisei de duas semanas para falar do que ficou impregnado em mim. Mas não foi preciso mais que minutos de caminhada para reconhecer que uma nova pilastra interna emergiu da experiência.

“O Planeta é um só” é um projeto de acolhimento e troca de experiências, aberto tanto aos imigrantes quanto aos brasileiros. Conta com a parceria do Instituto Tibagi que sede espaço para as reuniões. Para participar basta ir as reuniões.

Para ter informações pode-se acessar a página do Facebook https://www.facebook.com/oplanetaeumso

Para conhecer um pouco mais, veja a matéria na página do Instituto Tibagi http://institutotibagi.org.br/2016/03/14/parceria-com-o-planeta-e-um-so-no-apoio-aos-migrantes-e-refugiados-no-brasil/

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O Sagrado Risco De Ser

abr 26, 2016 por

Preciso parar urgentemente com a cerveja,
porque depois da segunda,
a língua perde a trava,
falo o penso,
mostro o que sou.

Depois da segunda cerveja,
a ternura aflora,
a emoção ganha asas,
as regras perdem o sentido,
o senso comum vira pó.

Depois da segunda cerveja,
as amarras se dissolvem,
os medos cometem suicídio,
o orgulho tem sede de afeto,
o amor se liberta da monogamia.

Preciso parar urgentemente com a cerveja,
porque depois da segunda,
desato as correntes,
me coloco em risco.
No sagrado risco de ser.

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A Pedra

abr 22, 2016 por

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Um ônibus, dois ônibus, infinitos ônibus.
Lotados, apinhados.
A fila serpenteia, o menino passa a pedra, a pedra destroça o menino, que enfrenta o homem, que assume sua sina.

O ônibus, a fila, o menino, a pedra, o homem, a sina que já foi destino.
É tarde. Não há sentido algum.
Ainda que pudesse dizer que trago em mim o amor de muitas vidas,
do lado de fora a pedra destroça o menino, que enfrenta o homem, que cumpre a cega sina.

Nada tem sentido. Nenhuma norma satisfaz.
Qualquer convenção é minuscula a julgar o amor de muitas vidas que trago em mim.
Mas logo depois de minha sombra está o ônibus e a fila, a pedra e o menino, o homem e sua triste sina.

Um ônibus, dois ônibus, infinitos ônibus.
Vazios, desocupados.
Na rua desimpedida, o vento passeia, o menino amortece a dor, o homem carrega o menino, que enlaça o homem, que destroça a pedra, assumindo seu destino.

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A Febre e o Amor que vieram de Recife

abr 20, 2016 por

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No último dia do Festival de Teatro de Curitiba de 2016, numa das salas do Solar do Barão, o diretor de “Febre que me segue” encerrou suas considerações aos atores com uma frase mais ou menos assim: “façam tudo com muito amor, porque é de amor que esse espetáculo fala.” E foi exatamente o que tivemos.
Logo depois a porta da sala foi aberta e o público acolhido pelo grupo. A troca afetiva e respeitosa atravessou o espetáculo. Do inicio ao fim, espectadores e atores estiveram envolvidos numa experiência que transcende o intelecto e atinge sutilmente o emocional.
Este é um dos fios que amarra a peça de teatro que o grupo Máquina dos Sonhos trouxe de Recife. A dramaturgia é sustentada por uma história corriqueira, de um rapaz e suas emoções, mas a narrativa não linear a faz especial e universal. A metalinguagem, com uso pontual e preciso, é mais um dos recursos que a enriquece.
Wellington Júnior deu ao espetáculo uma direção arrojada e corajosa, sem que, em nenhum momento, escorregue para algo constrangedor. É um espetáculo intimista e também neste aspecto, não há invasão, mas respeito. É provocativo, mas a provocação tem ares de convite para vivenciar o que acontece no mundo invisível do outro de quem é diferente ou semelhante.
Muitos são os atores que encarnam o personagem e o corpo, mais que a fala, é instrumento de comunicação dos afetos, desejos e conflitos. O recurso, associado ao limite tênue entre plateia e palco e a penumbra esfumaçada, permitem a universalização, a empatia e a identificação com as emoções expressas.
Dias antes conversei com as atrizes Natalia Cozzan, Sabrina França, Shirley Caroline sobre a experiencia do grupo e arrisco dizer que a direção de Wellington Júnior fez laço com as pesquisas do grupo.
O espetáculo trata de amor, mas também de desejos e conflitos. E não o faz de maneira discursiva, mas vivencial e transformadora. Sou grata pela experiência vivida e pela acolhimento que veio de Recife.

Atores: Luiz Carlos Filho, Rodrigo Herminio, Yto Soares, Paulo Cesar Pereira, Diogo Fernandes, Elisa Nascimento, Karol Soares, Li Buarque, Jávila, Nayara Lane, Thiago Santos, Melissa Frazen, Natália Cozzan, Sabrina França, Shirley Caroline.
Direção: Wellington Júnior.
Companhia: Máquina de Sonhos Cia de Teatro

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