ALÉM DA ALFORRIA
A liberdade ultrapassa a alforria e creio, dela prescinde.
Não é na alforria que a libertação se faz, mas ao contrário. De posse da última pode-se cavar a primeira com os recursos que o caminho dispõe.
Liberdade é um estado que explode na alma e invade o corpo na forma de alguma coisa que palavra não define. Pode surgir num repente, junto com a decisão que revoga a emoção ou que retira o impedimento do mergulho. Pode eclodir na madrugada, quando cinco planetas ficam alinhados, ou numa manhã de sol exuberante do verão.
Liberdade independe das estações. Pode não vir com a primavera, quando as flores ganham força e se mostram ao mundo e, sem explicação, impor-se no dia de chuva, em meio a neblina fria do outono ou inverno.
Não há muito sobre o que devanear. Abre-se os olhos, aspira-se um ar que parece mais fluído que o ar de antes, percebe-se que da pele às entranhas, tudo flui. Sabe-se, sem titubear, que as amarras foram desatadas, que já não será necessário nadar com pedras presas aos pés e que é possível amar sem pudor.