SOBRE O AMOR, A INTOLERÂNCIA E A AMEAÇA NO CÉU CURITIBANO
Hoje, 13/09/2017, foi o segundo e último dia de FLICAIXA Curitiba. Escolhi participar dos três eventos da tarde. Diversos, ricos e gostosos eventos. Conceição Evaristo e Luci Collin transbordando sensibilidade e quebrando as bordas limitantes dos estereótipos do feminino e do masculino. Xico Sá e Fabrício Carpinejar, entre o humor e emotividade, transitando pelas histórias pessoais e, consequentemente, de seus nichos sociais e do Brasil, sem deixar de lado a crescente intolerância. Mary del Priore abrindo outras escotilhas para a história do Brasil.
Entre o segundo e terceiro evento fui à praça Generoso Marques ver o discurso do Lula. De um lado o caminhão onde os discursos aconteciam – o do Lula foi o último. Do outro, o prédio do Sesc Paço da Liberdade. Entre os dois, as pessoas. Trabalhadores ligados a diferentes organizações.
Quando Lula chegou ao caminhão de som apareceu no céu e, pairando e rodando em torno do prédio do SESC, um helicóptero com luminoso de propaganda. Perdi o começo da “mensagem”. Não tenho certeza, mas parece que anunciava que um hotel prestava apoio a Polícia Federal, ao Ministério Público e a Lava Jato. Com humor sarcástico pensei que com o fracasso de bilheteria da peça publicitaria da Lava Jato – o filme A lei é para todos – faziam propagando para o público do Lula. E, mais uma vez, amargavam fracasso. Lula falou pouco. Estava rouco. Mas enquanto falou, era nele que todos grudavam olhos e ouvidos.
Ouvi algumas pessoas comentando que o helicóptero estava tentando impedir que ouvissem o Lula. Confesso que gostaria de ver a cena pelo mesmo ângulo. Mas li o resto da mensagem. Li a referencia a “ladrões”. Li a ameaça de prisão.
Bom seria se fosse uma tentativa de publicidade para o filme ou de abafar a voz do Lula, mas não era. Senti como ameaça explicita.
Voltei ao FLICAIXA, ouvi Mary del Priori e tomei o caminho de casa acalentando os ganhos nos eventos com os escritores . A amplidão do universo daquelas mulheres; a beleza daqueles homens que destrincham a intolerância enquanto deixam vazar o afeto de pais; o cuidado com o qual a pesquisadora puxa os fios da nossa história.
Voltei cultivando os ganhos, mas a ameaça não me abandona. Qual o nome do hotel? Quem autorizou? Por que autorizou? Para que autorizou?
Ainda considerei que se estão a ameaçar, estão assustados. Significa que a operação realmente não se mantém dentro da legalidade. Quem tem medo tem culpa. E quem tem culpa e medo não mede o que faz.
Continuo vendo, na ação, uma ameaça. E é como ameaça que acredito que deve ser investigada.